terça-feira, 30 de dezembro de 2008

É Segredo... (80º e 81º Capitulos)


80º Capitulo

Chegamos a casa e encontramos uma Coral ansiosa por novidades e neste momento acompanhada de Georg e Gustav que haviam ido para lá mal souberam do sucedido.
Contamos tudo e eles fazem uma enorme festa a Bill. Que fica todo babado por receber tantos mimos. Acabem por ficar para jantar connosco e é Tom quem cozinha. Está muito bem-disposto.
No meio do seu cozinhado e enquanto coloco a mesa ouço-o cantarolar na cozinha. Está feliz. É bom vê-lo assim.
No fim do jantar Andreas aparece cá em casa com Sarah, os dois namoram e parecem estar muito felizes. Ficamos na conversa até altas horas da noite e vou pensando no que fazer para poder continuar a viver cá.

Decididamente tenho de arranjar um emprego…
Nem que não seja na área do meu curso…

A minha conclusão no final da noite e depois de muito pensar. Coral tem de ir ao consulado belga pedir visto de turista, que lhe permite ficar 3 meses cá, e diz que depois se decidir ficar mais tempo arranja-se. Diz também que pretende arranjar um emprego em qualquer coisa.
Êlo não apareceu. Gustav diz que ela foi passar uns dias a França com os pais e que não teve tempo de avisar porque foi decidido em cima da hora. Porque é ele o único a ter conhecimento disso, não quis explicar. Mas a meio da noite recebeu um telefonema que o fez ir para a varanda para não ser ouvido.
Georg, esse, passou a noite com um olho no telemóvel a escrever mensagens. Como se eu não soubesse para quem.

- Georg, podes dizer à Caty que pode vir para cá. Está bem?

- Ah? Caty? Eu…Eu não…

- Não tentes disfarçar o óbvio e diz-lhe. Para eu não ter de lhe telefonar. Manda beijinhos de todos. – digo-lhe a rir-me.

- Oh…Está bem. – dá-se por vencido.

Poucos minutos depois decidem ir todos embora. Gustav aproveita a boleia de Georg e Andreas tem de ir levar Sarah a casa. Saem todos e ficamos novamente os quatro sozinhos. Decidimos ir dormir e Tom oferece-se para me levar ao consulado no dia seguinte, para pedir um prazo mais alargado para arranjar trabalho.

No dia seguinte de manhã acordo, arranjo-me, e dando um beijo na face de Bill saio para a cozinha onde Tom já se encontra a tomar pequeno-almoço. Coral chega pouco depois. Decidiu aproveitar a boleia para ir ao consulado belga.
Tom deixa-me na porta do consulado português e depois vai levar Coral. Entro e resolvo todos o que tenho para resolver.
Cerca de meia hora depois saio, fico na entrada à espera de Tom. Vou vendo carros a passar e algumas pessoas apressadas para os seus trabalhos, ou simplesmente a passear.

- Chris! Olá!



81º Capitulo

Olho para o meu lado esquerdo, aquela voz em inglês soa-me familiar. Quando viro a cabeça dou com Hanah a aproximar-se de mim.

- Olá, Hanah!

Cumprimentámo-nos. Não a esperava encontrar ali. A maneira como sai do quarto de Joshua ontem não foi a melhor.

- Está tudo bem? Ontem ficaste muito estranha.

- Estou bem. Desculpe, de repente lembrei-me que o meu namorado já estaria de volta ao quarto e ia estranhar não estar lá ninguém.

- Está bem. Eu moro ali. – aponta-me um prédio no fundo da rua - Vim buscar algumas coisas para o Josh. – mostra-me a saca verde que leva na mão.

Ficamos a conversar mais um pouco. Ela parece triste. Tem um ar cansado e desleixado. Observo-a durante alguns segundos.

- Está tudo bem? Não me parece bem.

- É só um pequenino problema que tenho de resolver.

- Se eu puder ajudar…

- Não querida. Ninguém pode. O meu Joshua tem de fazer um transplante, mas a operação é muito cara. Não tenho dinheiro para tal. Os médicos dizem que sem isso ele pode morrer. – começa a chorar.

Abraço-a com força. Aquela história soa-me tão real, tão verdadeira. Transporta-me para tempos que não quero recordar.

*Flashback*

- Precisa de um transplante de medula.

- Mas é muito caro?

- Lamento dizer-lhe que sim.

- Quais são as alternativas?

- Infelizmente não existem alternativas. Ou é o transplante ou a morte.

- Mas…Mas quanto tempo demoraria o transplante a ser feito se eu tivesse o dinheiro?

- Seria preciso encontrar um doador. Isso nunca se sabe quanto tempo demora. Nem a senhora nem o seu marido são compatíveis. A sua filha é. Mas ela ainda é menor. Não a podemos aceitar como doadora.

*End of Flashback*

De repente uma ideia surge na minha mente. Afasto-a um pouco e olho-a nos olhos. Sorrio-lhe.

- Vou tentar ajudá-la. Não desespere. Agora vou ter de ir. – o Cadillac de Tom apita atrás de mim.
Despeço-me dela e corro para o carro. Tom pergunta quem era a mulher, mas apenas lhe respondo que é alguém que conheci recentemente. Não lhe dou pormenores.

domingo, 14 de dezembro de 2008

É Segredo... (78º e 79º Capitulos)



78º Capitulo

- Ele tem leucemia.

A sua resposta faz o meu coração parar. Olho aquele menino tão frágil e levanto-me, arrumando a cadeira no seu sitio.

- Desculpe. Vou ter de ir. Eu volto outro dia para o ver.

Saio rapidamente do quarto sem deixar que ela diga nada. Caminho em passo rápido até ao quarto de Bill onde me encosto à parede e me deixo deslizar até ao chão, lentamente. Pouso a cabeça nos joelhos e olho o vazio.

Agora percebo porque me transmitias calma.
Joshua…Mar…

Sinto a porta ao meu lado, que eu havia encostado, mover-se. Levanto-me rapidamente do chão, não deixando que Tom ao entrar me veja sentada no chão.

- Onde estavas? Corri tudo à tua procura!

- Eu…Eu estava na casa de banho, decidi ir, também. – respondo rapidamente.

- Está bem. – encolhe os ombros e senta-se na cadeira onde eu tinha estado a falar com eles. Olha-me durante uns segundos – Tens a certeza que está tudo bem? Estás muito branca.

- Estou óptima, Tom. Não te preocupes que não caio para o lado outra vez.

Ele sorri. Não pergunta mais nada, apenas fica a olhar o vazio. No meio dos seus pensamentos esboça um pequeno sorriso, que disfarça logo a seguir.

- Em que estás a pensar Tom?

- Em nada que te interesse. Não sejas cusca.

- Mas eu sou. Se eu adivinhar o tema tu contas?

- Nem penses! Tu vais adivinhar o tema. – encolhe os ombros e ri-se.

- Ah! – rio-me – Coral! O que aconteceu? Conta Tom!

- Nada! Não aconteceu nada. Apenas estou feliz por ela estar lá em casa outra vez. E porque… - interrompe-se, não continuando a frase.

- Porque…???

­- Porque fui a primeira pessoa em quem ela pensou quando estava em perigo.

Sorriu e ficamos a olhar um para o outro. Para ele nasceu uma nova oportunidade no amor, uma nova oportunidade para conquistar Coral.


79º Capitulo

Bill volta ao quarto acompanhado de um médico que diz estar tudo bem com ele e que vai ter alta imediatamente. Bill dá pulinhos de satisfação e eu e Tom saímos do quarto para que este se arranje para irmos para casa.
Encostamo-nos à parede do lado de fora do quarto. O meu telemóvel toca, esqueci-me de lhe tirar o som e por isso apresso-me a atender a chamada, nem olho para o visor.

- Sim?

- Chris! – uma voz super alegre do outro lado – Como estás? Soube hoje que o Bill foi raptado, não se fala de outra coisa nos telejornais.

- Caty. Estou bem, e tu? Ele foi raptado mas já está tudo bem.

- Ainda bem! Eu também estou bem. Estive a falar com o Georg à pouco.

- Ai sim? E então?

- Posso voltar para aí? Eu gostava muito.

- Não sei, querida. Agora o meu antigo quarto está ocupado pela Coral. Tenho de falar com eles. Depois digo-te alguma coisa.

- Ok! Então depois eu ligo a saber como estão as coisas. Mas a Coral e o Tom entenderam-se?

- Ainda não…Mas acho que já faltou mais. – ambas rimos e Tom olha-me sem entender. Eu falo português com Caty e a única coisa que ele consegue captar da conversa são os nomes.

- Ok. Então adeus!

- Adeus!

Desligo o telemóvel, tiro-lhe o som e meto-o na carteira novamente. Tom continua com um olhar desconfiado e observa-me.

- Estavas a falar da Coral com a Caty!

- Estava a dizer-lhe que a Coral está lá em casa. Ela queria voltar para cá. E estava a perguntar se tu e a Coral se tinham entendido.

- Quem me dera… - diz num sussurro.

- Disseste alguma coisa, Tom Kaulitz? – pergunto-lhe espicaçando-o.

- Eu? Nada! A Coral não se deve importar de dormir com a Caty. Não deve haver problema em ela vir, e o Georg vai dar pulos de alegria.

Acabamos os dois a rir, deixando Bill, que sai do quarto naquele momento, estupefacto a olhar-nos. Acabamos por lhe contar a conversa e vamos embora do hospital.
O meu telemóvel volta a vibrar, desta vez uma mensagem. Mensagem do consolado português a dizer que o meu visto de estudante termina dentro de 15 dias.

Tenho de arranjar um emprego cá…

Sem isso tenho de voltar para Portugal…

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

É Segredo... (76º e 77º Capitulos)


76º Capitulo http://www.youtube.com/watch?v=4B5yz4uTjow

Olho-os. Chegou o momento da verdade. Não posso continuar a ocultar-lhes a verdade sobre a minha vida. A verdade sobre o que atormenta a minha existência.

- Antes que comeces a pensar que eu sabia alguma coisa sobre o rapto, tenho a dizer-te que não sabia de nada.

Bill perscruta-me seriamente. Não diz nada, apenas observa, juntamente com Tom que se encontra agora sentado na cama ao lado do irmão.
Puxo o cadeirão do quarto para perto da cama e sento-me, olhando-os.
O seu olhar inquisidor faz-me sentir desconfortável.

Vão chamar-me maluca. E mandar-me embora daqui.

Engulo em seco e olho-os novamente. Aperto as mãos uma na outra e ganho força para falar. Abano a cabeça e começo.

- Já não posso continuar a esconder isto. E vocês não merecem que eu o faça, vocês merecem saber o que se passa. Eu sei que me vão achar doida, mas o que eu vos vou contar é a mais pura verdade. Desde os doze anos que eu adquiri uma espécie de “poder”, não sei como lhe chamar, mas a verdade é que eu sonho com mortes.

Eles olham-me perplexos. Continuo.

- Eu sonho com a morte de pessoas que de alguma forma estão ligadas a mim, amigos, família, vizinhos, conhecidos. Não me perguntem porquê, não vos sei responder a isso, apenas vos sei dizer que as mortes com que sonho acontecem como eu as sonhei alguns dias depois e eu não tenho como evitar estes sonhos. Mas sei que não são os meus sonhos que provocam as mortes, são essas mortes que querem que eu as veja. Mas não sei porquê nem para quê.

- Foi assim que soubeste onde eu estava? Tu viste-me morrer?

- Sim, eu vi-te olhar para o gato no postigo e depois desmaiar. Se não tivesses sido encontrado naquele momento, tinhas…morrido…

Ele e Tom engolem em seco mas ficam em silêncio, provavelmente tentando digerir as informações. Muita informação em poucos minutos.

- Podem chamar-me maluca e mandar-me embora daqui. Eu já sei que é isso que acontece e por isso não o conto a ninguém.

- Não! Nós não te vamos mandar embora. – Bill estende-me a mão, levanto-me a agarro-a, chegando-me para perto dele – Eu amo-te e fico feliz por nos teres contado o teu segredo. Nós não contamos a ninguém, não é Tom?

- Sim, claro. Fica só entre nós.

Uma enfermeira entra no quarto para vir buscar Bill para fazer exames e interrompe a nossa conversa. Tom decide ir à casa de banho e eu fico no corredor a caminhar de lado para lado.
Ouço música, suave, a sair de um dos quartos. Aproximo-me e entreabro a porta.


77º Capitulo

Dentro do quarto deitado numa cama branca está um pequeno rapaz, aparenta não mais de seis anos. Dorme calmamente ao som de uma música suave, que sai de um pequeno rádio em cima de uma mesa. Tem uma máscara de oxigénio na cara que o ajuda a respirar e está ligado a uma máquina que mede os seus batimentos cardíacos.
Aproximo-me da cama e olho-o mais de perto. Uma pele muito branca que lhe dá um aspecto bastante frágil e cabelos muito negros, cor de pena de corvo. Abre lentamente os olhos e olha-me sorrindo-me, com os seus olhos negros muito abertos.
Sorrio-lhe em resposta. Ele ergue o braço direito e afasta um pouco a máscara de oxigénio, para poder falar.

- Lês-me uma história? – pergunta-me em inglês, enquanto me aponta um livro em cima da mesa junto ao rádio.

Aproximo-me da mesa e pego no livro, também ele inglês.

Deve ser inglês.

Pego no livro e leio a capa, “Pular a cerca”, sorriu ao ler o nome da história. Puxo a cadeira para junto da sua cama e sento-me nela, começando depois a ler-lhe a história.
Acabo de ler a história e reparo que ele adormeceu entretanto. Sorriu. O seu sereno sono traz-me uma calma indescritível. Já não me sentia tão calma há muito tempo.

Tenho saudades tuas, Mar.

A porta atrás de mim abre-se. Uma mulher de cabelos negros como o menino entra e olha-me espantada.

- O que faz aqui?

- Desculpe. – levanto-me - Eu ouvi a música e entrei. Ele pediu-me para lhe ler uma história. – mostro-lhe o livro – Então fiquei mais um pouco.

Ela sorri e pega no livro das minhas mãos, pousando de seguida na mesa onde o encontrei. Aproxima-se do rapaz e beija-o na testa, passando uma mão pelos seus cabelos. Ele não parece notar a sua chegada e continua a dormir calmamente.

- Ele não costuma falar com estranhos. Mas parece que gostou de ti, ele nem as enfermeiras deixa que lhe leiam histórias. Senta-te.

Aponta-me uma cadeira mais pequena do outro lado da cama, vou até lá e transporto a cadeira para perto da dela.

- Sou a Hanah. Ele é o meu filho, Joshua. Somos ingleses mas viemos viver para cá quando o meu marido mudou de trabalho. Agora…Bem, agora somos só nós os dois, o meu marido morreu num acidente de carro o ano passado.

- Lamento. Eu sou a Chris, sou portuguesa. Estou a viver cá há pouco tempo. O que tem ele?