terça-feira, 30 de dezembro de 2008

É Segredo... (80º e 81º Capitulos)


80º Capitulo

Chegamos a casa e encontramos uma Coral ansiosa por novidades e neste momento acompanhada de Georg e Gustav que haviam ido para lá mal souberam do sucedido.
Contamos tudo e eles fazem uma enorme festa a Bill. Que fica todo babado por receber tantos mimos. Acabem por ficar para jantar connosco e é Tom quem cozinha. Está muito bem-disposto.
No meio do seu cozinhado e enquanto coloco a mesa ouço-o cantarolar na cozinha. Está feliz. É bom vê-lo assim.
No fim do jantar Andreas aparece cá em casa com Sarah, os dois namoram e parecem estar muito felizes. Ficamos na conversa até altas horas da noite e vou pensando no que fazer para poder continuar a viver cá.

Decididamente tenho de arranjar um emprego…
Nem que não seja na área do meu curso…

A minha conclusão no final da noite e depois de muito pensar. Coral tem de ir ao consulado belga pedir visto de turista, que lhe permite ficar 3 meses cá, e diz que depois se decidir ficar mais tempo arranja-se. Diz também que pretende arranjar um emprego em qualquer coisa.
Êlo não apareceu. Gustav diz que ela foi passar uns dias a França com os pais e que não teve tempo de avisar porque foi decidido em cima da hora. Porque é ele o único a ter conhecimento disso, não quis explicar. Mas a meio da noite recebeu um telefonema que o fez ir para a varanda para não ser ouvido.
Georg, esse, passou a noite com um olho no telemóvel a escrever mensagens. Como se eu não soubesse para quem.

- Georg, podes dizer à Caty que pode vir para cá. Está bem?

- Ah? Caty? Eu…Eu não…

- Não tentes disfarçar o óbvio e diz-lhe. Para eu não ter de lhe telefonar. Manda beijinhos de todos. – digo-lhe a rir-me.

- Oh…Está bem. – dá-se por vencido.

Poucos minutos depois decidem ir todos embora. Gustav aproveita a boleia de Georg e Andreas tem de ir levar Sarah a casa. Saem todos e ficamos novamente os quatro sozinhos. Decidimos ir dormir e Tom oferece-se para me levar ao consulado no dia seguinte, para pedir um prazo mais alargado para arranjar trabalho.

No dia seguinte de manhã acordo, arranjo-me, e dando um beijo na face de Bill saio para a cozinha onde Tom já se encontra a tomar pequeno-almoço. Coral chega pouco depois. Decidiu aproveitar a boleia para ir ao consulado belga.
Tom deixa-me na porta do consulado português e depois vai levar Coral. Entro e resolvo todos o que tenho para resolver.
Cerca de meia hora depois saio, fico na entrada à espera de Tom. Vou vendo carros a passar e algumas pessoas apressadas para os seus trabalhos, ou simplesmente a passear.

- Chris! Olá!



81º Capitulo

Olho para o meu lado esquerdo, aquela voz em inglês soa-me familiar. Quando viro a cabeça dou com Hanah a aproximar-se de mim.

- Olá, Hanah!

Cumprimentámo-nos. Não a esperava encontrar ali. A maneira como sai do quarto de Joshua ontem não foi a melhor.

- Está tudo bem? Ontem ficaste muito estranha.

- Estou bem. Desculpe, de repente lembrei-me que o meu namorado já estaria de volta ao quarto e ia estranhar não estar lá ninguém.

- Está bem. Eu moro ali. – aponta-me um prédio no fundo da rua - Vim buscar algumas coisas para o Josh. – mostra-me a saca verde que leva na mão.

Ficamos a conversar mais um pouco. Ela parece triste. Tem um ar cansado e desleixado. Observo-a durante alguns segundos.

- Está tudo bem? Não me parece bem.

- É só um pequenino problema que tenho de resolver.

- Se eu puder ajudar…

- Não querida. Ninguém pode. O meu Joshua tem de fazer um transplante, mas a operação é muito cara. Não tenho dinheiro para tal. Os médicos dizem que sem isso ele pode morrer. – começa a chorar.

Abraço-a com força. Aquela história soa-me tão real, tão verdadeira. Transporta-me para tempos que não quero recordar.

*Flashback*

- Precisa de um transplante de medula.

- Mas é muito caro?

- Lamento dizer-lhe que sim.

- Quais são as alternativas?

- Infelizmente não existem alternativas. Ou é o transplante ou a morte.

- Mas…Mas quanto tempo demoraria o transplante a ser feito se eu tivesse o dinheiro?

- Seria preciso encontrar um doador. Isso nunca se sabe quanto tempo demora. Nem a senhora nem o seu marido são compatíveis. A sua filha é. Mas ela ainda é menor. Não a podemos aceitar como doadora.

*End of Flashback*

De repente uma ideia surge na minha mente. Afasto-a um pouco e olho-a nos olhos. Sorrio-lhe.

- Vou tentar ajudá-la. Não desespere. Agora vou ter de ir. – o Cadillac de Tom apita atrás de mim.
Despeço-me dela e corro para o carro. Tom pergunta quem era a mulher, mas apenas lhe respondo que é alguém que conheci recentemente. Não lhe dou pormenores.

domingo, 14 de dezembro de 2008

É Segredo... (78º e 79º Capitulos)



78º Capitulo

- Ele tem leucemia.

A sua resposta faz o meu coração parar. Olho aquele menino tão frágil e levanto-me, arrumando a cadeira no seu sitio.

- Desculpe. Vou ter de ir. Eu volto outro dia para o ver.

Saio rapidamente do quarto sem deixar que ela diga nada. Caminho em passo rápido até ao quarto de Bill onde me encosto à parede e me deixo deslizar até ao chão, lentamente. Pouso a cabeça nos joelhos e olho o vazio.

Agora percebo porque me transmitias calma.
Joshua…Mar…

Sinto a porta ao meu lado, que eu havia encostado, mover-se. Levanto-me rapidamente do chão, não deixando que Tom ao entrar me veja sentada no chão.

- Onde estavas? Corri tudo à tua procura!

- Eu…Eu estava na casa de banho, decidi ir, também. – respondo rapidamente.

- Está bem. – encolhe os ombros e senta-se na cadeira onde eu tinha estado a falar com eles. Olha-me durante uns segundos – Tens a certeza que está tudo bem? Estás muito branca.

- Estou óptima, Tom. Não te preocupes que não caio para o lado outra vez.

Ele sorri. Não pergunta mais nada, apenas fica a olhar o vazio. No meio dos seus pensamentos esboça um pequeno sorriso, que disfarça logo a seguir.

- Em que estás a pensar Tom?

- Em nada que te interesse. Não sejas cusca.

- Mas eu sou. Se eu adivinhar o tema tu contas?

- Nem penses! Tu vais adivinhar o tema. – encolhe os ombros e ri-se.

- Ah! – rio-me – Coral! O que aconteceu? Conta Tom!

- Nada! Não aconteceu nada. Apenas estou feliz por ela estar lá em casa outra vez. E porque… - interrompe-se, não continuando a frase.

- Porque…???

­- Porque fui a primeira pessoa em quem ela pensou quando estava em perigo.

Sorriu e ficamos a olhar um para o outro. Para ele nasceu uma nova oportunidade no amor, uma nova oportunidade para conquistar Coral.


79º Capitulo

Bill volta ao quarto acompanhado de um médico que diz estar tudo bem com ele e que vai ter alta imediatamente. Bill dá pulinhos de satisfação e eu e Tom saímos do quarto para que este se arranje para irmos para casa.
Encostamo-nos à parede do lado de fora do quarto. O meu telemóvel toca, esqueci-me de lhe tirar o som e por isso apresso-me a atender a chamada, nem olho para o visor.

- Sim?

- Chris! – uma voz super alegre do outro lado – Como estás? Soube hoje que o Bill foi raptado, não se fala de outra coisa nos telejornais.

- Caty. Estou bem, e tu? Ele foi raptado mas já está tudo bem.

- Ainda bem! Eu também estou bem. Estive a falar com o Georg à pouco.

- Ai sim? E então?

- Posso voltar para aí? Eu gostava muito.

- Não sei, querida. Agora o meu antigo quarto está ocupado pela Coral. Tenho de falar com eles. Depois digo-te alguma coisa.

- Ok! Então depois eu ligo a saber como estão as coisas. Mas a Coral e o Tom entenderam-se?

- Ainda não…Mas acho que já faltou mais. – ambas rimos e Tom olha-me sem entender. Eu falo português com Caty e a única coisa que ele consegue captar da conversa são os nomes.

- Ok. Então adeus!

- Adeus!

Desligo o telemóvel, tiro-lhe o som e meto-o na carteira novamente. Tom continua com um olhar desconfiado e observa-me.

- Estavas a falar da Coral com a Caty!

- Estava a dizer-lhe que a Coral está lá em casa. Ela queria voltar para cá. E estava a perguntar se tu e a Coral se tinham entendido.

- Quem me dera… - diz num sussurro.

- Disseste alguma coisa, Tom Kaulitz? – pergunto-lhe espicaçando-o.

- Eu? Nada! A Coral não se deve importar de dormir com a Caty. Não deve haver problema em ela vir, e o Georg vai dar pulos de alegria.

Acabamos os dois a rir, deixando Bill, que sai do quarto naquele momento, estupefacto a olhar-nos. Acabamos por lhe contar a conversa e vamos embora do hospital.
O meu telemóvel volta a vibrar, desta vez uma mensagem. Mensagem do consolado português a dizer que o meu visto de estudante termina dentro de 15 dias.

Tenho de arranjar um emprego cá…

Sem isso tenho de voltar para Portugal…

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

É Segredo... (76º e 77º Capitulos)


76º Capitulo http://www.youtube.com/watch?v=4B5yz4uTjow

Olho-os. Chegou o momento da verdade. Não posso continuar a ocultar-lhes a verdade sobre a minha vida. A verdade sobre o que atormenta a minha existência.

- Antes que comeces a pensar que eu sabia alguma coisa sobre o rapto, tenho a dizer-te que não sabia de nada.

Bill perscruta-me seriamente. Não diz nada, apenas observa, juntamente com Tom que se encontra agora sentado na cama ao lado do irmão.
Puxo o cadeirão do quarto para perto da cama e sento-me, olhando-os.
O seu olhar inquisidor faz-me sentir desconfortável.

Vão chamar-me maluca. E mandar-me embora daqui.

Engulo em seco e olho-os novamente. Aperto as mãos uma na outra e ganho força para falar. Abano a cabeça e começo.

- Já não posso continuar a esconder isto. E vocês não merecem que eu o faça, vocês merecem saber o que se passa. Eu sei que me vão achar doida, mas o que eu vos vou contar é a mais pura verdade. Desde os doze anos que eu adquiri uma espécie de “poder”, não sei como lhe chamar, mas a verdade é que eu sonho com mortes.

Eles olham-me perplexos. Continuo.

- Eu sonho com a morte de pessoas que de alguma forma estão ligadas a mim, amigos, família, vizinhos, conhecidos. Não me perguntem porquê, não vos sei responder a isso, apenas vos sei dizer que as mortes com que sonho acontecem como eu as sonhei alguns dias depois e eu não tenho como evitar estes sonhos. Mas sei que não são os meus sonhos que provocam as mortes, são essas mortes que querem que eu as veja. Mas não sei porquê nem para quê.

- Foi assim que soubeste onde eu estava? Tu viste-me morrer?

- Sim, eu vi-te olhar para o gato no postigo e depois desmaiar. Se não tivesses sido encontrado naquele momento, tinhas…morrido…

Ele e Tom engolem em seco mas ficam em silêncio, provavelmente tentando digerir as informações. Muita informação em poucos minutos.

- Podem chamar-me maluca e mandar-me embora daqui. Eu já sei que é isso que acontece e por isso não o conto a ninguém.

- Não! Nós não te vamos mandar embora. – Bill estende-me a mão, levanto-me a agarro-a, chegando-me para perto dele – Eu amo-te e fico feliz por nos teres contado o teu segredo. Nós não contamos a ninguém, não é Tom?

- Sim, claro. Fica só entre nós.

Uma enfermeira entra no quarto para vir buscar Bill para fazer exames e interrompe a nossa conversa. Tom decide ir à casa de banho e eu fico no corredor a caminhar de lado para lado.
Ouço música, suave, a sair de um dos quartos. Aproximo-me e entreabro a porta.


77º Capitulo

Dentro do quarto deitado numa cama branca está um pequeno rapaz, aparenta não mais de seis anos. Dorme calmamente ao som de uma música suave, que sai de um pequeno rádio em cima de uma mesa. Tem uma máscara de oxigénio na cara que o ajuda a respirar e está ligado a uma máquina que mede os seus batimentos cardíacos.
Aproximo-me da cama e olho-o mais de perto. Uma pele muito branca que lhe dá um aspecto bastante frágil e cabelos muito negros, cor de pena de corvo. Abre lentamente os olhos e olha-me sorrindo-me, com os seus olhos negros muito abertos.
Sorrio-lhe em resposta. Ele ergue o braço direito e afasta um pouco a máscara de oxigénio, para poder falar.

- Lês-me uma história? – pergunta-me em inglês, enquanto me aponta um livro em cima da mesa junto ao rádio.

Aproximo-me da mesa e pego no livro, também ele inglês.

Deve ser inglês.

Pego no livro e leio a capa, “Pular a cerca”, sorriu ao ler o nome da história. Puxo a cadeira para junto da sua cama e sento-me nela, começando depois a ler-lhe a história.
Acabo de ler a história e reparo que ele adormeceu entretanto. Sorriu. O seu sereno sono traz-me uma calma indescritível. Já não me sentia tão calma há muito tempo.

Tenho saudades tuas, Mar.

A porta atrás de mim abre-se. Uma mulher de cabelos negros como o menino entra e olha-me espantada.

- O que faz aqui?

- Desculpe. – levanto-me - Eu ouvi a música e entrei. Ele pediu-me para lhe ler uma história. – mostro-lhe o livro – Então fiquei mais um pouco.

Ela sorri e pega no livro das minhas mãos, pousando de seguida na mesa onde o encontrei. Aproxima-se do rapaz e beija-o na testa, passando uma mão pelos seus cabelos. Ele não parece notar a sua chegada e continua a dormir calmamente.

- Ele não costuma falar com estranhos. Mas parece que gostou de ti, ele nem as enfermeiras deixa que lhe leiam histórias. Senta-te.

Aponta-me uma cadeira mais pequena do outro lado da cama, vou até lá e transporto a cadeira para perto da dela.

- Sou a Hanah. Ele é o meu filho, Joshua. Somos ingleses mas viemos viver para cá quando o meu marido mudou de trabalho. Agora…Bem, agora somos só nós os dois, o meu marido morreu num acidente de carro o ano passado.

- Lamento. Eu sou a Chris, sou portuguesa. Estou a viver cá há pouco tempo. O que tem ele?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

É Segredo... (74º e 75º Capitulos)



74º Capitulo

Ele começa a parecer um pouco preocupado com a minha atitude. Penso que começa a achar que sou louca, louca ao ponto de o matar.
Retiro o canivete da manga e encosto a lâmina fria ao seu pescoço. Sinto-o arrepiar-se com o frio do objecto e com o medo.

- Onde é que ele está??

- Eu…Eu…Eu não sei…Não sou eu que o estou a guardar. Apenas encomendei o serviço. Mais nada.

- Porquê?

- Porquê, o quê?

- Por que é que o mandaste raptar? Rápido! Responde! – pressiono mais a lâmina contra o seu pescoço. Sorriu maliciosamente.

- Precisava que os Tokio Hotel parassem… Com o sucesso deles o meu abranda. Ninguém parece sequer reparar no meu CD. Eu mando que o libertem.

- Acho bem. – retiro o canivete do seu pescoço, mas não sem antes deixar uma pequena marca a escorrer sangue.

Guardo o canivete e sem lhe dizer mais nada saiu do gabinete. Dirijo-me para a saída e esbarro contra Tom no caminho. Ele vem a correr, completamente suado.

- Porque vieste aqui?

- Nada de perguntas. Anda!

Puxo-o pelo braço para fora, mas mesmo assim ele consegue ver Bushido aparecer na porta do gabinete com um lenço com sangue no pescoço. Olha-me, questionando-me sobre o sucedido com o olhar. Não lhe respondo, apenas o puxo para mais longe, acabando por virar a esquina para uma outra rua perpendicular aquela.
Finalmente paramos e largo-o.

- Nada de perguntas! Com quem vieste?

- O Saki está ali ao fundo. – aponta para o fundo da rua – O que aconteceu?

- Nada. Diz ao Saki para chamar a polícia. Foi o Bushido! Ele confessou.

- Mas não temos provas… - argumenta.

Retiro da mala um pequeno gravador e reproduzo a conversa desde o principio. Ele fica a olhar-me fixamente sem saber como reagir. Depois agarra no gravador e corre até ao jipe onde se encontra Saki. Vejo-o falar pelo vidro.
Caminho devagar até ao Cadillac e abro a porta, sentando-me de seguida no banco em frente ao volante. Fecho os olhos e encosto a cabeça para trás e penso em como tive coragem para fazer o que fiz minutos antes. Abano a cabeça, preciso de me manter concentrada. Abro os olhos e vejo que Tom já se encontra ao meu lado, do lado de fora do carro.

- Saki já está a chamar a polícia. – diz-me ofegante.

- Ainda bem…

Olho à volta. Casas e mais casas, muitas casas naquela zona, um único café numa esquina, bastante movimentado por sinal. Olho com mais atenção.

- Anda comigo Tom…

Saio do carro, fecho-o e caminho ao longo da rua com Tom ao meu lado. Paro ao lado do café e olho em volta à procura de algo que reconheça, um simples sinal.
Vejo um pequeno gato que se passeia junto de um postigo poeirento. Aproximo-me, ouço muito barulho atrás de mim.
Volto-me para trás.


75º Capitulo

A polícia acabava de chegar à rua, e iniciava-se agora uma perseguição. Bushido corre à frente de dois polícias. Vira na rua mais à frente. Tom começa a correr também, juntando-se à perseguição. Chamo dois polícias que por ali tinham ficado e indico-lhes aquela cave. Eles dirigem-se para lá e eu corro atrás de Tom.
Corremos atrás de Bushido. Ao fim de alguns minutos de corrida acelerada consigo alcançar Tom. Puxo-o por um braço e indico-lhe outro caminho. Juntos vamos por uma rua paralela e deixamos os polícias correrem atrás do fugitivo.
Colocamo-nos na esquina da rua, e esperamos. Ouvimos os passos acelerados de três pessoas. Fazemos sinal um ao outro e quando o rapper vira para lá eu prego-lhe uma rasteira enquanto Tom lhe cai em cima.
O agora encurralado Bushido pragueja coisas que não entendo e nem quero atender. Os polícias agarram-no e algemam-no. Eu e Tom voltamos para junto da casa. Vemos Bill sair apoiado em dois polícias, a cambalear.
Entretanto já havia chegado ao local um ambulância e os paramédicos que com ela vieram dirigem-se a Bill amparando-o até ela. Eu e Tom sorrimos um para o outro e continuamos o nosso caminho até lá devagar.
Estamos cansados da corrida. Aproximamo-nos da ambulância e abraçamos Bill. Juntamo-nos os três num abraço com muitas lágrimas e palavras ditas em surdina. Depois afastámo-nos e sorrimos. Um sorriso cúmplice de três pessoas que se amam e se entendem sem palavras.
Apoio-me em Tom.

- Que se passa? – pergunta olhando-me.

- Nada. Estou só um pouco cansada. Da corrida.

Ele sorri, está feliz por termos encontrado Bill. Abraça novamente o irmão que também sorri, apesar das dores nos músculos. Bill terá de ser levado para o hospital para fazer exames. Aproximo-me dele e beijo-o na testa, ele sorri-me.
Sinto as pernas fraquejar, volto a apoiar-me em Tom. Seguro-me com força no seu braço, o que faz com que ele me apoie com o outro braço.

- Tu estás bem? Estás branca.

- Não me estou a sentir muito bem. Sinto-me fraca.

Começo a ver tudo à minha volta a andar à roda, os rostos de Bill e Tom ficam indefenidos. As pernas perdem a força. Fica tudo escuro.

Abro os olhos. Olho à minha volta, estou deitada numa cama de hospital. Mantenho as minhas roupas, estou apenas deitada sobre a roupa da cama.

Não foi nada grave.

Não se encontra ninguém no quarto. Levanto-me e saiu para o corredor. Dou de caras com Tom que caminha pelo corredor com um café na mão, indo na direcção do quarto que eu estava.

- Chris!

- Tom. O que aconteceu?

- Tiveste uma quebra de tensão. Não te alimentaste bem nos últimos dias e depois com aquela corrida, o teu sistema não aguentou. Desmaiaste.

- Ah. Mas agora já estou bem. E cheia de fome!

Ambos rimos e ele dirige-se para a cafeteira comigo, onde compro uma sande para comer. Dirijo-me depois com ele para o quarto de Bill.
Este está deitado na cama a olhar para a porta. Quando nos vê entrar esboça um enorme sorriso. Aproximamo-nos dele e cumprimentámo-lo.

- Pensei que me tinham abandonado. – sorri – Estás melhor amor?

- Sim, Bill. Estou óptima.

- Chris. Nós queremos perguntar-te uma coisa. – diz Tom, olhando-me seriamente.

- Digam.

- Como é que tu sabias onde eu estava? – termina Bill, observando-me agora com uma expressão mais séria.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É Segredo... (72º e 73º Capitulos)



72º Capitulo

Uma hora depois Saki sai da sala, vem a transpirar, visivelmente cansado, exausto. Senta-se também ele no chão ao nosso lado.

- Ele não diz para quem trabalha. Vai ser difícil. A polícia vai organizar uma busca. Mas é complicado. Ele pode estar em qualquer sítio. Pode até já ter saído da cidade.

Tom cerra os punhos e embate com eles na tijoleira fria do chão do aeroporto. As suas mãos ficam vermelhas mas ele parece não se importar. Barafusta em alemão quase de modo inaudível. Saki observa-o e fala-lhe em alemão, dando-lhe pequenas palmadas no ombro.
Acabamos por ir todos para casa e deixamos a polícia encarregue do caso. Saki deixa-nos nas traseiras do prédio e segue para o estúdio para ir falar com Jost.
Subimos as escadas e entramos em casa, pouso a mala em cima da mesa e sento-me no sofá. Acabo por me aninhar nele agarrada a uma almofada.

- Tu tens de te deitar para descansares. Anda. – diz Tom a Coral levando-a para o quarto.

Enquanto vão fico deitada a olhar o vazio. A preocupação toma conta da minha mente e do meu espírito. O cansaço toma conta do meu corpo. Acabo por adormecer.

Uma ampla cave, os mesmos móveis que havia visto dias antes.
O lavatório, a mesa, a cama, o cobertor, tudo igual. Tudo do mesmo jeito. Tudo abandonado. Ausência de calor e de vida.
Com dificuldade caminho junto das paredes observando tudo à minha volta. Tudo conhecido, mas desconhecido ao mesmo tempo. Sento-me na cama.
Ouço o motor de um carro. A custo levanto-me e caminho até um pequeno postigo poeirento. Com a mão afasto o pó e olho para fora.
Vejo uma rua estreita, em paralelos, não passam carros, não existe movimento. Um pequeno gato aproxima do vidro e segue a minha mão com as suas pequenas patas.

- Ajuda-me. – a minha voz sussurra, inaudível.

Não sei onde estou.

- Chris, acorda.

Abro os olhos lentamente, vejo Tom ajoelhado na minha frente. Passa a mão pelos meus cabelos e sorri.

- Estavas a ter um sono agitado.

Não lhe respondo, não me apetece falar. Levanto-me e dirijo-me para a varanda. Ainda o ouço dizer, distante, que vai fazer companhia a Coral e tomar um banho.
Também preciso dum banho, mas é de um que me lave a alma que está escurecida como a noite. Sento-me numa cadeira na varanda e observo o céu e as estrelas que brilham alheias a todo o sofrimento que se passa cá em baixo.
Cerca de uma hora depois Tom vem chamar-me para que me vá deitar pois já é tarde e temos de descansar para ter forças. Obedeço-lhe e vou para o meu quarto, meu e de Bill. Arranjo-me e deito-me naquela cama que costumamos partilhar os dois, abraçados, apaixonados. Hoje está vazia.

Onde estás? Diz-me…

Contemplo a escuridão que envolve o quarto até que mais uma vez me deixo sucumbir ao cansaço e acabo por adormecer.

- Ajuda-me…


Observo mais um pouco a estrada, na esquina da rua existe o que parece ser uma padaria ou um café. Existe sempre gente a sair e entrar apressadamente. Mas ninguém repara na curiosidade do gato por aquela pequena janela.
Não vale a pena tentar. É impossível alguém reparar numa presença aqui.

Acordo com os primeiros raios de sol que entram pela janela. Levanto-me e sem fazer barulho saiu do quarto indo novamente para a varanda. Ajuda-me a pensar. E neste momento preciso de o fazer.
Lembro-me do homem no aeroporto, do seu sorriso cínico perante a nossa aflição. Conheço aquela cara mas não me lembro de onde. Preciso de pensar.
Apesar de ser cedo já anda gente na rua, apressada para o seu trabalho. Alguns metros afastados da casa uns trabalhadores tentam a todo o custo que um grande cartaz de promoção de um concerto fique bem colocado.
Observo o seu esforço.

Não pode ser…


73º Capitulo

*Flashback*

- Quem é aquele? – pergunto a Bill depois do homem se ter afastado.

- Aquele é o Bushido. É um rapper alemão, bastante conhecido aqui. – responde-me Andreas, Bill assente – Eu acho que ele tem inveja da fama dos Tokio Hotel. Veio aqui cumprimentar só para fazer boa figura.

- Não digas isso, Andreas. – reprova-o Bill.

*End of flashback*

Sem pensar em mais nada saiu da varanda a correr em direcção ao quarto de Tom. Abro a porta sem bater mas este já se encontra acordado e arranjado. Agarro-o por um braço e puxo-o comigo para a varanda. Ele não reclama mas olha-me como se estivesse a pensar que estou doida.
Na varanda aponto para o cartaz.

- É o Bushido. O que tem??

- Ele estava no aeroporto Tom. Ele ria-se enquanto nos via naquela aflição. Estava escondido no meio da multidão e fugiu quando notou que eu reparei nele.

Tom olha perplexo para mim e para o cartaz. Abre e fecha a boca. Não emite palavras nem sons. O choque é maior do que a sua capacidade de reciocinio.

- Foi ele Tom…

Saiu da varanda e vou para o quarto onde me arranjo apressadamente. Passo pela cómoda e da gaveta retiro o canivete que escondo debaixo da roupa. Meto-o dentro da carteira e saiu, passando pela sala silenciosamente para que Tom que continua na varanda não me ouça.
Pelo caminho roubei a chave do Cadillac e saiu com ele sem que Tom repare. Conduzo até ao posto da polícia, onde muito inocentemente pergunto indicações para chegar ao estúdio ou à produtora do Bushido. Todos muito simpáticos ajudam-me prontamente e fornecem-me as indicações.
Continuo o meu caminho até chegar à produtora, passo pelos seguranças sem que eles sequer reparem em mim, provavelmente pensando que sou uma nova funcionária.
Procuro o gabinete de Bushido sem dar nas vistas. Não é difícil encontrá-lo, tem o seu nome escrito na porta dentro de uma grande estrela, tipo camarim de teatro.
Abro a porta sem bater e entro devagar. O seu olhar perscruta-me sem proferir nenhuma palavra. Está sentado numa grande cadeira atrás da secretaria que ocupa quase todo o gabinete. Caminho também em silêncio até à mesa e sento-me na cadeira em frente a Bushido.

- Reconheces-me?

- Não creio… - responde-me com um sorriso cínico – devia?

- Penso que sim…Visto que raptaste o meu namorado.

Ele sorri ainda mais e observa-me atentamente. Levanta-se e prepara-se para vir na minha direcção. Caminha devagar.

- Se fosse a ti deixava-me estar sentado. Eu não sou de confiança…

O seu sorriso apagasse e como que pensando melhor na atitude a tomar, volta para trás sentando-se novamente. Une as pontas dos dedos de ambas as mãos e assenta o queixo nelas.

- Eu não te conheço. E não sei quem é o teu namorado. Não percebo o que fazes aqui.

- Não te faças de desentendido, porque eu sei que foste tu. E não tenho paciência para estas brincadeiras.

Devagar meto a mão dentro da minha bolsa e retiro o canivete. Pouso a mala na cadeira e levanto-me. O canivete vai escondido dentro da manga da camisola. E caminho até junto da cadeira dele. Paro ao seu lado. Baixo-me até os meus lábios ficarem junto da sua orelha.

- Não me faças perder tempo… O tempo é precioso, sabias? E para ti, pode já ser pouco. A morte está a caminho para te buscar…

- O que estás a dizer rapariga? Tu és doida?

- Talvez sim, talvez não…

terça-feira, 11 de novembro de 2008

É Segredo... (70º e 71º Capitulos)


70º Capitulo

Ela olha para mim e só depois responde.

- Quando fomos a Portugal eu disse-lhe que ia, mas apenas disse que ia com umas amigas. Parece que ele decidiu fazer-me uma surpresa e foi também para Portugal. Eu tinha-lhe dito qual era o hotel onde ficaríamos, então ele foi lá, mas quando estava a chegar ao hotel viu-me na varanda com o Tom. – faz uma pausa e olha para Tom – Ele viu quando te aproximaste de mim para me tirar aquele cisco da cara e pensou que nos estávamos a beijar. Eu já tinha notado que ele estava diferente comigo ao telefone, mas não sabia o motivo.

Todos ficam a olhá-la. Tinha sido espancada por causa de um mal entendido, tinha sido tomada por traidora e infiel, quando na verdade não tinha feito nada. Tom agarra a mão de Coral e o seu pai olha-o desconfiado.

- Desculpa teres passado por isto por minha causa. – diz-lhe Tom baixinho.

- Não faz mal. Desculpa eu por te ter metido nesta confusão. Mas foste a primeira pessoa de quem me lembrei quando tive uma oportunidade para pegar no telemóvel. Eras a minha única esperança. E salvaste-me. – ela abraça-o deixando escorregar uma lágrima.

Ele retribui o abraço mas apertando-a muito levemente, como se ela fosse uma boneca de porcelana ou de cristal que se pudesse partir a qualquer momento, com medo de a magoar.

- Vocês ficam aqui esta noite. – diz a mãe dela – O senhor também. – dirige-se agora a Saki – não vão voltar para a Alemanha a esta hora. Amanhã de manhã depois de um bom sono vocês voltam para vossa casa.

- Mãe? – Coral interrompe-a.

- Sim filha. Diz.

- Eu vou com eles.

- O quê?? – aquela frase apanhara ambos os pais de surpresa.

- Eu vou com eles. Quero afastar-me daqui. Do Pierre. Tudo aqui me faz lembrar dele e eles… -aponta para nós – …são uma família para mim. Vocês não se importam que vá, pois não? – pergunta-nos.

- Claro que não. Até temos um quarto vazio lá em casa e tudo. – diz-lhe Bill.

A mãe acaba por concordar, por sua vez o pai continua um pouco relutante em deixar a sua filha ir para longe de si novamente. Ainda agora ela havia chegado e já estava de partida novamente.

A noite passa rapidamente, durmo no quarto de Coral, Saki no quarto de hóspedes e os gémeos no sofá cama da sala. Na manhã seguinte preparamos tudo e carregamos as malas para o carro. Coral despede-se dos pais. Muitas saudades e muitas lágrimas nos rostos daquela família que se iria separar mais uma vez.
Em pouco mais de três horas estamos a aterrar na Alemanha novamente. Saki caminha na frente para prevenir possíveis reconhecimentos dos gémeos. Coral caminha do meu lado direito com o seu braço entrelaçado no meu, enquanto Tom a apoia no lado contrário. Bill caminha do meu lado esquerdo. Vamos conversando baixo de modo a não chamar a atenção das muitas pessoas que ali se encontram nesta manhã.
Saki olha atentamente para todos os lados, para verificar se alguém nos reconhece. Ninguém nos parece prestar atenção.

- Agora vais ter sempre companhia quando eles estiverem fora. – diz-me Coral com um sorriso.

- Pois. É verdade. Já não vou ficar sozinha em casa durante dias. Estás contente Bill? Agora já não precisas de ficar preocupado por eu estar sozinha.

Ninguém me responde.

- Bill? Não dizes nada?

Olho para o meu lado. Bill não se encontra lá. Paro fazendo Coral e Tom pararem também. Olho para todos os lados e não vejo Bill em lado nenhum.

- Bill??? Não brinques. Onde estás. – digo num tom alto mas sem chamar demasiadas atenções.

- Onde está o meu irmão Chris?

- Eu não sei Tom…



71º Capitulo

Tom começa a olhar para todos os lados também. O meu coração quer saltar do meu peito, tal é a minha aflição. Agarro o peito, pois sinto uma dor aguda. Do nada Tom passa por mim a correr a grande velocidade. Saki havia-se juntado a nós também procurando vislumbrar Bill no meio da multidão, mas de repente começa também ele a correr na mesma direcção que Tom.
Com o olhar acompanho a sua trajectória. Vejo Bill junto da porta a sair do aeroporto, ao seu lado caminham dois homens vestidos de preto.

- BILL!!!!!!!

O meu grito ecoa no meio do aeroporto o que faz os homens olharem para trás e me permite ver que um deles aponta uma arma às costas de Bill. Mas permite-lhes a eles vereficarem que Tom e Saki correm na sua direcção.
Agarram Bill cada um por um braço e começam a correr empurrando-o para fora do aeroporto. Tom e Saki continuam no encalço dos homens mas sem êxito. Os homens conseguem enfiar Bill na porta traseira da carrinha e preparam-se para fugir. Em desespero Tom atira-se para cima de um dos homens, acabando por o apanhar pelo casaco e envolvem-se numa luta. Sem se importar com o companheiro o outro individuo entra para o lugar do condutor e arranca a grande velocidade.
Saki aproxima-se de Tom e, dando um pontapé na cabeça do homem, deixa-o inconsciente. Neste momento já estou perto deles, pois também eu comecei a correr. Coral aproxima-se de nós devagar, pois não pode correr.
Os seguranças do aeroporto vêm também para ver o que se passa e Saki explica-lhes. Um grande grupo de pessoas encontra-se à nossa volta, todas nos olham com olhares chocados e de surpresa. No meio da multidão um homem sorri.

- Estás bem, Chris? – pergunta-me Coral, tocando-me no braço.

- Sim, Coral. – olho momentaneamente para ela e volto a olhar para o homem que me chamara a atenção.

Ele já não se encontra lá. Corro um pouco até ao local onde ele se encontrava, mas não o vejo. As pessoas afastam-se para me deixar passar. Cochicham entre si. Observam a cena sem perceberem o que se está a passar.
Os seguranças do aeroporto, juntamente com Saki, levam o homem para uma sala do aeroporto onde o vão interrogar e chamam a polícia. Apenas eles entram na sala, eu, Tom e Coral temos de esperar no corredor. Tom ajuda Coral a sentar-se no chão e depois vem ter comigo que me encontro já sentada no chão com a cabeça entre os joelhos. Ele senta-se ao meu lado colocando a sua cabeça sobre a minha.

- Ele vai aparecer mana. Vais ver. Não te preocupas.

Ergo um pouco a cabeça, ele olha-me e beija-me na testa. Tenta parecer forte quando na verdade está tão preocupado quanto eu. Sinto-me morrer por dentro. Volto a colocar a cabeça entre os joelhos e ele pousa a sua sobre a minha.

Por que é que tinha de acontecer isto?
Porquê?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

É Segredo... (68º e 69º Capitulos)


68º Capitulo

Pouco mais de uma hora depois já nos encontramos dentro do avião. Saki com os seus contactos conseguiu isso. A viagem é curta. E Bill aproveita para me perguntar o que planeio fazer quando lá chegar.

- Primeiro vamos a casa dela pedir a morada do namorado. E depois…bem…depois logo se vê…

Ele revira os olhos. E olha para Tom que parece completamente alheio à nossa conversa. Estão sentados um de cada lado de mim. Tom ficara no lugar junto da janela e observa as nuvens sem pestanejar.
Aperto a sua mão e ele volta o olhar para mim dando-me um ligeiro sorriso. Está preocupado, consigo vê-lo na sua cara.
Alguns minutos depois o avião aterra na Bélgica e Saki trata logo de alugar um carro para nos deslocar-mos. Temos um mapa com a localização da casa de Coral e seguimo-lo.
Quando tocamos na campainha a mãe de Coral vem atender-nos de avental colocado. A senhora esta a fazer o jantar e esperava a chegada da sua filha para o mesmo. Sem entrar em pormenores peço-lhe a morada de casa do namorado. Pierre. Ela dá-nos a morada prontamente e volta para o seu jantar, enquanto nós nos reunimos dentro do carro para localizar a casa no mapa.
Cerce de meia hora depois encontramos o bairro. Dividimo-nos para procurar a casa. Bill e Tom por um lado e eu e Saki por outro. O bairro é todo ele constituído por casas luxuosas mas térreas, sendo possível adivinhar que todas elas possuem uma cave. Todas têm um pequeno portão na frente e um gradeamento coberto por extensas heras.
Vou olhando cuidadosamente cada número ao lado do portão. Alguns deles já cobertos pelas heras. Mas encontro-o. Chamo Saki que se aproxima de mim e pega no telemóvel chamando Bill e Tom. Seguidamente vai buscar o carro e estaciona-o a alguns metros dali de modo a não dar nas vistas.
Combinamos que eles ficam no carro enquanto que eu sozinha toco na campainha e abordo o dito Pierre. Se ele pensar que sou uma rapariga só será mais fácil conquistar-lhe a confiança.
Toco na campainha e fico à espera no alpendre. É preciso entrar o portão para tocar na campainha, esta encontra-se junto à porta da casa e não no portão. Passados alguns minutos a porta range abrindo-se devagar.
Um rapaz pouco mais alto que eu aparece pela fresta da porta e observa de alto a baixo. Olha depois em volta e só então fala:

- Quem és tu? O que queres?

- Venho à procura da Coral. A mãe dela disse-me que a podia encontrar aqui.

- Ela não está aqui. Mas quem és tu?

- Sou uma amiga dela. Conhecemo-nos quando nos juntamos num projecto do nosso bairro. – faço um olhar inocente.

- Que projecto? Ela nunca me falou em projecto nenhum! – pergunta desconfiado.

- É normal. – desvalorizo – O projecto ainda está em fase embrionária. É o projecto “Não seja vítima do seu companheiro”. Serve para ajudar raparigas e mulheres a aprenderem a defender-se dos seus namorados ou maridos que as maltratam.

Ele engole em seco. Volta a olhar para as ruas à volta da casa. Eu continuo despreocupadamente e rindo-me por dentro perante a sua aflição.

- É que finalmente consegui arranjar um professor de defesa pessoal. E ele está comigo para o apresentar à Coral. Ele foi ali estacionar o carro. – faço um sinal a Saki e este sai do carro dirigindo-se a nós.

Pierre parece cada vez mais incomodado com a conversa e ao ver o porte de Saki esconde-se mais atrás da porta.

- Mas ela não está aqui. Tenho de ir.

Tenta fechar a porta mas eu impeço-o metendo um pé na porta. Saki chegara finalmente à nossa beira e os gémeos saiam do carro. Tom aproxima-se também. Pierre olha-nos assustado. Bill por sua vez entra pelo jardim da casa e contorna-a indo encontrar uma janela rente ao chão, a janela da cave.
Bill ajoelha-se na relva e espreita para dentro. Vê Coral deitada no chão.

- Ela está lá dentro. Está na cave, não se move. – grita Bill surgindo também no alpendre.

Sem pensar duas vezes Tom afasta Pierre com um empurrão e entra pela casa a correr. Vai direito à cave em busca de Coral. Saki prende Pierre que barafusta que aquilo é invasão de propriedade. Eu corro atrás de Tom e encontro-o já ajoelhado ao lado inanimado de Coral.

- Como está ela? – pergunto-lhe da soleira da porta da cave.

Ele pega-lhe no pulso para sentir a pulsação e olha-me.



69º Capitulo

- Ela está só desmaiada.

Tom pega nela nos seus braços e sai da cave. Afasto-me para o deixar passar. Ele passa pela sala onde estão os outros e pousa Coral no sofá grande. Ajoelha-se junto dela. Passa-lhe a mão carinhosamente pela cara o que faz com que o roçar da sua manga desloque um pouco a gola da blusa de Coral. Ele pode finalmente ver que ela usa o colar que ele lhe ofereceu.

- Ele não te guardou. – sussura junto do ouvido dela – Mas eu vou guardar-te.

De súbito levanta-se do chão e sem que Saki tenha tempo para reagir caminha velozmente em direcção de Pierre dando-lhe um murro que o faz cair para trás, desamparado no chão.

- Vocês vão pagar por isto. – ameaça Pierre ainda caído e limpando o sangue do corte que fizera o murro de Tom – Nunca pensei que ela me trocasse por um tipo assim. Com rastas…com esse aspecto…Porco…

Tom agarra-o pelos colarinhos levantando-o do chão. Saki não se intromete, apenas observa a cena de perto.

- Ela não te trocou por mim. Ela não quis nada comigo por tua causa. Quis voltar para ti. Nunca me deixou amá-la como ela merece. – o olhar de Tom transparece raiva.

- Tom? – uma voz sussurra dentro da sala.

De imediato Tom larga Pierre fazendo com que este caia novamente no chão. Coral acordara e ajeita-se lentamente no sofá.

- Não fales. Estou aqui. Está tudo bem, ele não te volta a fazer mal. – ele ajoelha-se novamente ao lado dela e aperta-lhe uma mão enquanto que com a outra lhe afaga o cabelo.

Ela olha à volta e vê-nos, olha depois para o local onde Saki agarra novamente Pierre mantendo-o de pé.

- Como foste capaz? – pergunta em surdina, começando de seguida a chorar, o que faz com que Tom a envolva nos seus braços.

Poucos segundos depois a polícia entra dentro de casa e agarra Pierre. Dizem que Coral terá de ir prestar declarações na esquadra, mas concordam em que ela seja vista primeiro por um médico.
Passadas duas horas estamos todos sentados na sala de espera da esquadra, Coral foi vista no hospital e está agora a prestar declarações. Saki irá prestar a seguir e depois Tom que foi quem atendeu o telefonema dela e seguidamente eu e Bill que também estávamos presentes quando ela foi encontrada. Todos concordámos em dizer que o murro desferido por Tom a Pierre foi em legítima defesa, pois este preparava-se para o atacar. É a palavra de cinco pessoas contra a de uma, contra a palavra de um cobarde que acaba de espancar a namorada.
Passamos mais duas horas a prestar declarações. A polícia é sempre demorada nestas coisas, e eu nem percebo porquê, afinal amanhã está solto novamente apenas com “termo de identidade e residência”. É frustrante.
Seguimos depois para casa de Coral, os seus pais ao verem-na entrar em casa naquele estado ficam preocupadíssimos. Explicámos-lhes o sucedido e eles ficam indignados com a atitude de Pierre. Pelo que percebi eles gostavam muito dele.

- Mas afinal por que é que ele te fez isso? – pergunta o pai dela, faz a pergunta que todos queríamos fazer.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

É Segredo... (66º e 67º Capitulos)


66º Capitulo

Pego numa jarra que a porteira havia colocado no meio do hall e aproximo-me da porta. Espreito para dentro.

- Chris!!

- Amor!!!

- Bill? Tom? Já? – fico estática na porta, não me tinham avisado que chegariam já.

Cumprimento-os quando finalmente absorvo o choque. Vou pousar a jarra no seu lugar e sento-me no sofá para que me contem tudo da tour.
Falam-me do concerto em Portugal, dizem que adoraram e que as fãs portuguesas são um máximo. Continuam a contar-me todas a peripécias e percalços dos seus concertos e das entrevistas. E de como o facto de Tom ter agradecido a uma “mana” nos COMET continua a ser tema para perguntas nas entrevistas.
Depois de tanta conversa vão os dois para os respectivos quartos para descansarem da viagem. Fico na sala a ver televisão e por vezes vou até à varanda olhar para o céu.

O Tom não perguntou pela Coral.
Já deve ter percebido que ela voltou para casa.

Observo as nuvens que se passeiam vagarosamente no céu, marcando o avançar do tempo. Imagino que Coral já esteja em casa. Ela disse-me que a sua casa é a cinco minutos do aeroporto e que os seus pais estariam à sua espera no aeroporto para a levarem.
Sinto um aperto no peito e sento-me numa das cadeiras que por ali se encontram.

Que aflição.
Parece que algo mau vai acontecer.

Não dou importância e volto para dentro. Ouço um telemóvel tocar, é o de Bill, que se encontra pousado sobre a mesa da sala. Dirijo-me a ele e vejo no visor que se trata de David. Atendo.

- Boa tarde, David.

- Ah! Boa tarde, Chris. O Bill?

- Está a dormir. Ele e o Tom vinham cansados e foram dormir um pouco.

- Ah, ok. Como o Saki ainda não chegou aqui não sabia se eles tinham chegado bem. Saki deve ter apanhado trânsito na volta. Ainda bem que eles já estão aí. Bem… Adeus!

- Adeus, David.

Desligo o telemóvel e volto a colocá-lo sobre a mesa. Com o toque do telemóvel Tom acordara e encontra-se agora na entrada da sala a olhar para mim.

- Quem era?

- O David. Para saber se vocês chegaram bem.

- Ok. Vou dormir outra vez. – diz com um sorriso pateta.

Vira-me as costas e prepara-se para voltar para o quarto. Mas nesse preciso momento o seu telemóvel começa a tocar. Ele pega nele de cima da mesa e olha para o visor. O seu anterior sorriso desvanece-se.

- Quem é Tom?


67º Capitulo

Ele volta a olhar para o visor e engole em seco. Abano-o e tiro-lhe o telemóvel das mãos. Olho eu para o visor.

- É a Coral. Atende! – estendo-lhe o telemóvel que ele agarra com a mão a tremer.

Pensa um pouco e finalmente carrega no botão para atender. Põe o telemóvel no ouvido.

- Coral?

- Tom…Ajuda-me…

Ouço a voz de Coral do outro lado da linha, seguidamente a chamada cai e Tom retira o telemóvel do ouvido ficando a olhá-lo atónito.

- A chamada caiu. Ela pediu ajuda. – cai no chão ficando encostado na ombreira da porta – O que é que eu faço?

- Eu vou ligar para casa dela. Ela deixou-me o número.

Tiro o telemóvel do bolso e procuro o número de casa dela na agenda. Finalmente encontro-o e faço a chamada. Quem me atende é a mãe, falo-lhe em francês, tenho alguns conhecimentos da língua aprendidos na escola. A senhora de voz amável diz-me que Coral tinha passado por casa para deixar as malas e tinha ido visitar o namorado. Isto à três horas atrás.
Desligo o telemóvel despedindo-me da senhora. Olho para Tom que continua sentado no chão com a cabeça entre os joelhos, mas que ao perceber que desligo o telemóvel ergue a cabeça e me fita com olhar interrogativo.

- Ela saiu de casa à três horas atrás para ir visitar o namorado. Ouviste mais alguma coisa no telefonema?

- Acho que ouvi uma voz masculina a dizer algo como “larga já isso” depois a chamada caiu. O que fazemos?

- Vai acordar o Bill. Eu vou ligar ao Saki.

- Ligar ao Saki? Para quê? – pergunta-me enquanto, apoiado na porta, se levanta do chão.
- Vamos para a Bélgica!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

É Segredo... (64º e 65º Capitulos)


64º Capitulo

Chegamos à discoteca e sentamo-nos numa mesa na zona VIP. Apesar de nós não o sermos Andreas fez questão de ir para lá, porque é primo do dono.
A Coral vai pedir bebidas ao balcão. Enquanto eu, Êlo e Andreas ficamos a conversar. Andreas fica sentado ao meu lado na mesa. A sua proximidade começa a incomodar-me. Coral volta e convido-a para dançar.
Vamos as duas para a pista e começamos a mexer-nos ao som da música. A música é bastante sensual e nós acompanhamos o seu ritmo. Alguns rapazes param de dançar para ficar a observar-nos. Cansada de apenas nos ver Êlo junta-se a nós e deixa Andreas especado sozinho na mesa.
Olho pelo canto do olho e reparo que ele nos observa. Depois levanta-se e vem na nossa direcção. Os rapazes tinham recomeçado a dançar e já não nos prestavam atenção.

- Posso roubá-la? – pergunta Andreas às outras duas, referindo-se a mim.

Puxa-me para o lado e começa a dançar comigo. Mantenho-me afastada dele mas ele aproxima-se. A cada passo que ele dá em frente, eu recuo. Depois coloca as mãos na minha cintura e aproxima a sua cabeça da minha.

- E se eu te beijasse agora? – sussura junto da minha cara.

- Se tu me beijasses? Provavelmente ficavas com um caminhar novo. Mas tu não queres isso pois não?

- Dá-me uma boa razão para eu não o fazer…

- Até te dou mais…Primeiro, eu sou namorada do teu melhor amigo. Segundo, eu não quero nada contigo. Terceiro, se me tocas…Passas a maior vergonha da tua vida aqui. Satisfeito?

Ele olha-me e afasta-se. Pondera as suas próximas palavras. Finalmente fala.

- Tu não tinhas força par me atacar… - diz com ar de gozo.

- Queres experimentar? É só dizeres. Rapazes como tu eu como ao pequeno-almoço. Não me faças perder tempo nem paciência.

Afasto-me dele e recomeço a dançar com as raparigas. Ele afasta-se e volta para a mesa. Senta-se e cruza os braços, acenando depois a uma empregada para lhe levar uma nova bebida.

- Foi impressão minha ou ele estava a atirar-se a ti? – pergunta-me Coral.

- Não foi impressão tua. Mas ele não volta a repetir.

Continuamos a dançar de forma provocadora até que o cansaço foi mais forte e decidimos ir embora. Andreas já está um pouco alegre, por isso levo eu o carro. Deixo-o em sua casa e digo-lhe para ir buscar o carro na manhã seguinte.

No dia seguinte acordo cedo. Levanto-me e arranjo-me. Passo pela sala e pego na chave de casa. Saindo em seguida.

O Bill não ligou…
Maldita diferença horária…


Dirijo-me para a padaria. Mas pelo meio do caminho ouço música. Pelo beat é hip hop. Não resisto e sigo o som, encontrando um pequeno círculo no meio de um parque ali perto. Aproximo-me e fico a ver os rapazes e raparigas a dançar. B-Boys e B-Girls, excelentes. Fico um pouco a observá-los. Sinto saudades da dança.

- Gostas de hip hop?




65º Capitulo

Olho na direcção da voz que se dirige a mim em inglês. Na minha frente tenho uma rapariga da minha altura, magra, cabelos loiros encaracolados e olhos verdes. Sorri-me amavelmente.

- Sim, gosto. Sou a Chris. – apresento-me – Tu és?

- Sou a Sarah. Sou inglesa, cheguei à pouco tempo cá. Mudei-me com os meus pais.

- Eu também não sou alemã. Sou portuguesa. Vim morar com uns amigos.

- Fixe! Estudas cá na cidade? Eu estou a estudar medicina.

- Eu estudo economia aqui também.

Ficamos a observar a apresentação daquele grupo durante algum tempo enquanto conversamos e nos conhecemos melhor. Acabamos por nos sentar num banco do parque quando a actuação acaba. A meio da conversa somos interrompidas.
Olho para o lado e vejo Andreas com um grande sorriso ao meu lado em pé.

- Olá! – saúda-nos.

- Olá. Andreas esta é a Sarah. Sarah este é o Andreas.

Eles cumprimentam-se e Andreas senta-se ao nosso lado no banco. Entrego a chave do carro a Andreas. Ainda não a havia tirado da minha mala. Depois despeço-me deles para finalmente cumprir o objectivo que me levara a sair de casa, comprar pão.
Passo na padaria e compro-o, seguindo depois para casa. Olho para o parque e Andreas e Sarah continuam a conversar. Encolho os ombros e sigo o meu caminho perdida nos meus pensamentos que são subitamente interrompidos pelo tocar do meu telemóvel.
Atendo sem sequer ver quem é. Mas é Bill. Conversámos um pouco e conto-lhe a minha saída na noite anterior, omitindo-lhe o sucedido com Andreas, não vale a pena pensar mais no assunto. Cerca de 10 minutos depois desligamos a chamada e entro, finalmente, em casa.
Coral está sentada no sofá a ver televisão. Já está arranjada e vira instintivamente a cabeça para a porta mal me ouve abri-la.

- Por onde andaste?

- Fui comprar pão. A Êlo?

- Está no quarto a arranjar-se. Ela demora uma eternidade.

Vamos para a cozinha preparar pequeno-almoço e entretanto Êlo junta-se a nós. À tarde preparamos uma sessão de estudo, pois os exames estão mesmo a começar.

Passa-se cerca de um mês, os exames já acabaram e a Coral tem a passagem comprada para a Bélgica. Vai embora antes dos rapazes voltarem, não pode estar mais aqui, o visto de estudante não o permite e eu tenho de tratar de mudar o meu visto para poder continuar cá.
Eu e Êlo levamo-la ao aeroporto e pelo meio de muitas lágrimas despedimo-nos dela. As despedidas são sempre difíceis. Ficamos a vê-la dirigir-se para o avião e levantar voo, afastando-se nos céus.
Vamos embora e deixo Êlo em sua casa, dirigindo-me de seguida sozinha para casa. A viagem é curta e faço-a ao som da música que vai passando na rádio, tentando esquecer que ficarei sozinha em casa até Bill e Tom voltarem.Chego a casa e estaciono o carro subindo depois as escadas enquanto procuro a chave da entrada. Quando subo o último degrau já estendendo a mão com a chave para a fechadura, deparo-me com a porta aberta e muito barulho vindo de dentro da casa.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

É Segredo... (63º Capitulo)


63º Capitulo

- E que convite é esse? – pergunto desconfiada.

- Queres vir à discoteca do meu primo?

- Pode ser. Se as meninas quiserem ir. Vou perguntar-lhes.

Ele franze o olho e fica a ver-me afastar-me para o corredor dos quartos. Volto alguns minutos depois.

- Elas dizem que vão. Espera aí enquanto nos arranjamos.

Ele senta-se no sofá e faz zapping na televisão. Eu volto para o quarto para me arranjar e telefono para Bill.
Ele não atende, toca toca toca e nada. Decido ligar para Tom, este atende ao fim de quatro toques. Vem bem disposto.

- Bom dia minha flor!

- Boa noite Tom. O teu irmão?

- A fazer umas fotos. Sabes como é. Sempre o mais concorrido…

- Diz-lhe para me ligar quando puder. Vou sair com as meninas e com o Andreas.

- Com o Andreas? Ele está aí?

- Sim. Veio convidar-nos para ir à discoteca do primo.

- OK. Eu aviso o Bill. Beijo.

- Beijo Tom!

Desligo o telemóvel e vejo-me no espelho. Dou mais um jeito no cabelo e passo o gloss transparente nos lábios.

Estás pronta…

Saio do quarto e vejo a porta do outro ainda fechada. Bato devagar e ouço mandarem entrar. As meninas estão ambas em frente ao espelho e pintar os olhos. Sento-me na beira da cama a olhá-las.

- Não achas estranho o convite do Andreas? Ele nunca tinha vindo cá quando os rapazes não estão. – pergunta-me Êlo vendo-me através do meu reflexo no espelho.

- Não acho muito normal. Mas estamos a precisar de descontrair do stress dos exames. Por isso vamos lá. – respondo-lhe encolhendo os ombros.

Ela e Coral encolhem também os ombros. Acabam de se arranjar e pagam nas carteiras. Saímos as três do quarto e vamos para a sala onde Andreas nos espera sentado no sofá.

- Tanta menina bonita! – ri-se ao olhar-nos.

Levanta-se e desliga a televisão, dirige-se depois à porta que abre afastando-se para nos deixar passar. Saímos e ele fecha a porta atrás de si. Descemos para a rua onde ele deixou o seu carro. Ele coloca um braço por cima dos meus ombros.

- Estás muito bonita. – diz-me.
- Pois… Mas o teu bracinho está a mais… - respondo-lhe retirando o seu braço de cima dos meus ombros.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

É Segredo... (62º Capitulo)


62º Capitulo

Do bolso tiro um pequeno canivete que silenciosamente encosto no seu pescoço, fazendo-o sentir o metal frio roçar a pele.
Com a outra mão pego no saco.

- Eu sei que arranjaste isto à Élodie. Mas não o vais voltar a fazer, pois não? Nem a ela, nem a ninguém. Vou estar de olho em cima de ti. Se eu sonhar que o voltas a fazer, arrependeste amargamente. Tu não me conheces, não sabes do que sou capaz.

- Eu não volto a fazê-lo…Eu juro…

Passo a lâmina afiada pelo seu rosto. Fazendo-o olhá-la com receio. Vejo várias gotas de suor formarem-se na sua testa e escorrerem. Ele está nervoso.

- Para teu próprio bem…Espero que cumpras o que prometes.

Afasto-me e empurro-o para longe de mim. Ele foge a correr daquele local enquanto eu guardo o canivete novamente no bolso e o saco com as anfetaminas.

Tenho de me livrar de vocês…

Penso olhando para os comprimidos. Volto para dentro da biblioteca onde as meninas me esperam. Alexander esse já não se encontra na biblioteca. O seu lugar está desocupado.
Ficamos as três a estudar mais umas horas e depois voltamos para casa. Mal entro vou à casa de banho onde despejo o saco na sanita descarregando o autoclismo logo a seguir. Vejo os comprimidos irem pelo cano abaixo e sorrio.

Missão cumprida…

Bill liga-me praticamente todos os dias, por vezes está demasiado ocupado e acaba por ser Tom quem liga a dará novidades e a mandar beijinhos por vez do irmão.
Não pergunta por Coral, tenta que esse seja um assunto encerrado. É o que faz agora ao ligar-me. Mas ao ouvir a voz dela a falar para mim da cozinha, não consegue evitar perguntar-me se ela está bem. Bastaria um estalar de dedos dela para ele ir a correr para os seus braços.

Por vezes ouço Coral falar em francês dentro do quarto, pela conversa está a falar com o namorado e não com os pais. Agora ouço-a numa conversa muito melosa no telemóvel. Certamente é ele.
Fico parada no meio do corredor a pensar em como gostava que ela e o Tom pudessem ficar juntos. Pela primeira vez apaixonou-se e sofreu um desgosto.

Mereces ser feliz, maninho…

O toque da campainha acorda-me dos meus pensamentos. Franzo o sobrolho. Não espero visitas e ambas as meninas estão em casa. Coral no quarto e Êlo a tomar banho.
Dirijo-me à porta e abro um pouco, vejo Andreas do outro lado a sorrir para mim.

- Olá. Os rapazes ainda não voltaram. Estão nos Estados Unidos. – digo-lhe admirada com a sua visita.
- Eu não vim ter com eles. Eu sei que eles estão fora. Vim fazer-te um convite a ti!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

É Segredo... (61º Capitulo)


61º Capitulo

Saímos todos para o corredor com as malas. As despedidas têm de ser feitas ali, não podemos ser vistos na entrada do hotel juntos. Despedimo-nos todos com beijos e abraços e, claro, muitas lágrimas. Caty abraça-se a mim a chorar.

- Vou ficar sem ti outra vez…

- Não vais nada. Falta um mês para ficares de férias. Depois voltas para a Alemanha outra vez. Combinado?

Ela abre um grande sorriso e acena que sim com a cabeça. Depois Georg aproxima-se dela e noto que no meio do abraço lhe sussurra coisas no ouvido que a fazem sorrir.
Tom ignora Coral, evitando despedir-se dela. Mas esta aproxima-se dele e, pondo-se em bicos de pés, dá-lhe um beijo na face.

- Adeus Tom. Até um dia. Quando voltares já não estarei na Alemanha.

Ele não responde, apenas a olha e a vê afastar-se aos poucos. Vamos sair do hotel primeiro que eles.

Saímos do hotel onde na entrada uma carrinha preta nos espera para nos levar ao aeroporto. Caty entra num táxi que se encontra parado logo atrás da carrinha e antes de entrar nela vemo-la partir e desaparecer no emaranhado das ruas de Lisboa. Entramos na carrinha e olhamos o hotel uma última vez. Só iremos ver os rapazes daqui a três semanas. Eles voltam novamente para os Estados Unidos e regressam à Alemanha depois de terem dado o concerto do Pavilhão Atlântico. O concerto pelo qual tantas fãs portuguesas esperam. Bill já me prometeu um grande espectáculo. Não irei pois terei o último exame da universidade nesse dia.
Voltamos para casa. Sim, para casa. Para nós a Alemanha é agora a nossa casa. Coral, bem, ela terá de voltar para a Bélgica, mas pensou que ela também sente o mesmo que eu e Êlo.
Êlo vai para Magdeburgo para casa dos pais para fazer a desintoxicação. Estará uma semana numa clínica e fará o resto do processo em casa. Segundo os médicos ainda vai a tempo, não é um caso de dependência total.
Coral vem comigo para casa dos gémeos, assim não fica sozinha no quarto da residência universitária, que partilha com Êlo, e, assim, eu também tenho companhia.
Coral evita falar sobre Tom fugindo sempre o mais possível a esse tema de conversa. Vai voltar para o namorado dentro de pouco tempo e Tom é apenas uma história para mais recordar. Pela primeira vez uma rapariga tem Tom Kaulitz aos seus pés e recusa-o.
Elô volta para a faculdade a tempo dos exames finais, vem viver comigo também, prefiro tê-la debaixo de olho. E na universidade mantenho-a afastada de Alexander. Mantenho-a a afastada a ela, mas aproximo-me eu.

Vais pagar pelo que fizeste.
Ai se vais…

Um dia na biblioteca da universidade aproximo-me de Alexander. Sento-me discretamente ao seu lado e abordo-o.

- Olá. Tudo bem contigo, Alex? Posso tratar-te assim não posso?

- Olá. – saúda desconfiado – Sim, podes tratar-me assim. Tu és a Chris, não é? Acho que já ouvi chamarem-te assim. Tudo bem, e contigo?

-Sim, sou a Chris. Tudo bem. Quero falar de um assunto contigo. Vem comigo até lá fora para falarmos mais à vontade.

Reticente, ele levanta-se, e segue-me para fora da biblioteca. Vem atrás de mim até à pequena e estreita rua que se encontra ao lado da biblioteca. Uma rua pouco frequentada e mal arranjada.
Paro e volto-me para ele.

- Ouvi dizer que arranjas umas coisas para podermos estudar mais…

- Eu?? Eu não sei de nada disso… - disfarça. Muito mal, por sinal…

- Não me mintas. – aproximo-me dele tocando-lhe levemente com a ponta dos dedos no pescoço. Sinto a sua pele arrepiar.

- Talvez saiba alguma coisa. – responde, agora já mais confiante – Tenho aqui o que tu queres.

Leva a mão ao bolso e retira de lá um pequeno saco idêntico ao que encontrei na mala de Êlo. Abana o saco alegremente em frente aos meus olhos e sorri. Sorrio-lhe de volta. Ergo a mão tentando alcançar o saco que ele afasta de mim.

- Não, não. Isto tem um preço.

Sorrio novamente e aproximo-me mais dele, ficando quase colada a ele.

- Pois, mas para mim, vai ser grátis… - sorrio maliciosamente.
Ele franze o sobrolho e perscruta a minha face. Faço o mesmo com ele. Enquanto com movimentos calmos levo a mão até ao bolso de trás das minhas calças.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

É Segredo... (59º e 60º Capitulos)



59º Capitulo

- Tom? Sai daí por favor.

Ele vira-se para mim, olha-me dois segundos e volta a olhar para a rua.

- A vista daqui de cima é bonita. – desce do muro e vem até mim.

Senta-se no chão e eu acompanho-o. Ele abraça as pernas pelos joelhos e encosta a cabeça neles. Olha o vazio. Abraço-o e pouso a cabeça em cima da sua.

- Tu já sabias, não já? Ela contou-te.

- Contou-me hoje, pouco antes de chegares. Tens de falar melhor com ela, Tom.

- Para quê? Eu amo-a e ela tem namorado. Não pode acontecer, não vai acontecer. Acabou. Foi um sonho bonito. Mas acabou. O amor não presta.

Solta uma lágrima e seguidamente muitas mais. Abraço-o. Ele retribui o abraço agarrando-me com força.

- Tem calma maninho… - conforto-o.

- Porquê? Porquê que na primeira vez que me apaixono por alguém tem de ser assim?

- Tem calma Tom. Tu vais apaixonar-te por outra e vão ser muito felizes. Afinal de contas não dizem que existem sete mulheres para cada homem no Mundo?

Ele sorri. Depois solta uma gargalhada.

- Só tu… Realmente vocês estão muito mal servidas. – ri-se novamente e seca as lágrimas.

- Vamos para baixo, maninho?

Ele assente e juntos entramos nas escadas e descemos os degraus que levam ao nosso andar. Os outros continuam desesperados à sua procura e suspiram de alívio ao vê-lo aparecer comigo.
Bill abraça-o com força. O amor entre eles é bonito de se ver. Amam-se e completam-se. Amor de gémeos. Não vivem um sem o outro.
Mais calmos cada um volta para o seu quarto. Coral fica para trás e aproxima-se de Tom.

- Podemos falar? – pergunta-lhe.

- Não vale a pena. Já foi tudo dito. Desculpa ter-te colocado nesta situação.

Tom vira as costas e entra no quarto. Para ele o assunto tinha acabado ali. Queria esquecê-la. Se é que isso é possível.



60º Capitulo

A manhã seguinte chega com um dia um pouco cinzento. Acordo cedo e arranjo-me sem acordar Bill. Saio do quarto e dirijo-me para o hospital sem tomar pequeno-almoço. Não tenho fome. Quero ir buscar Êlo o mais rápido possível.
Entro no hospital e a enfermeira que falou comigo no dia anterior vem até mim e pede-me que a siga. Vou com ela até ao quarto de Êlo.
Ela encontra-se sentada na cama já com as suas roupas e a carteira pousada na cama ao seu lado. Está pronta para vir embora.
Entro no quarto em silêncio. Nenhuma de nós diz nada. Ela levanta-se e vem ter comigo à porta despedindo-se da enfermeira pelo caminho.

- Tenha juízo menina. – diz-lhe a enfermeira em inglês antes de sair do quarto.

Percorremos o corredor do hospital em silêncio até à saída. Na entrada do hospital dirijo-me para um táxi e ela segue-me. Entramos no carro e sentamo-nos lado a lado. Dou as indicações ao condutor e ele arranca.
Sinto que ela me olha pelo canto do olho.

- Chris, eu…

- Falamos no hotel. – interrompo-a. Aquele não era o local para aquela conversa.

Poucos minutos depois o táxi pára na entrada do hotel. Pago e saio do carro seguida de Êlo e ambas seguimos para dentro, continuando um caminho silencioso até ao elevador e até sair dele.
Ao sair do elevador ela dirige-se para o seu quarto só depois percebendo que não tem o keycard. Olha para mim e eu chego perto da porta e abro-a. Deixo-a entrar e entro também.
Ela senta-se na beira da cama. Eu sigo para perto da janela e olho para fora. No vidro vejo o seu reflexo, ela olha-me.

- Então eram comprimidos para as dores de cabeça? – digo-lhe sem olhar para ela.

- Desculpa…

- Não me peças desculpa. É a tua vida. Se deres cabo dela o problema é teu e dos teus pais que vão ficar tristíssimos ao saber disto.

- Eles não podem saber…

- Eles têm de saber. Tu tens de te tratar. Tens de fazer desintoxicação. A única coisa que quero saber é porquê. Porquê, Êlo?

- Eu queria ter boas notas e ele disse que aquilo me ajudava para eu ter mais força para estudar, para poder estudar mais horas. Depois fui querendo sempre mais mais e mais. Depois…foi o que viste ontem. Eu vou fazer desintoxicação. – diz-me com as lágrimas nos olhos.

- Ele quem?

- O rapaz russo. Alexander Kournikóva. Foi ele que me arranjou aquilo.

Vou até junto dela e dou-lhe um beijo na testa. Ela olha-me tristemente. Dirijo-me para a porta.

- Vou ter com o Bill para arranjar as minhas coisas. Prepara-te que temos de ir embora.

Saio do seu quarto e entro no de Bill. Este já está acordado e arranjado, sentado na beira da cama à minha espera.

- Foste buscar a Êlo?

- Sim. E agora vim despedir-me de ti. O Jost já anda no corredor. Também tenho de me despedir da Caty. Ela fica cá.

Passados alguns minutos Jost vem bater à porta. Chegou a hora das despedidas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

É Segredo... (57º e 58º Capitulos)


57º Capitulo

(Na varanda do quarto de Coral)

- Trouxe-te uma coisa dos Estados Unidos. – Tom tira uma caixinha muito pequena do bolso.

Abre-a e dentro aparece uma pulseira com vários anjos prateados. A condizer com o colar que lhe havia dado. Coral olha para a pulseira durante uns segundos. Pega na caixa e observa-a com atenção. Solta uma lágrima grossa que lhe corre pela face abaixo.
Tom aproxima-se e limpa a lágrima com a mão.

- Porque choras?

Ela fecha a caixa e ergue o olhar, olhando Tom directamente nos olhos. Por momentos pensa que não tem coragem de lhe dizer a verdade. Mas depois ganha coragem.

- Vamos para dentro. Preciso de falar contigo.

Entram no quarto, Tom depois de Coral. Coral senta-se em cima da cama e Tom senta-se no cadeirão que permanece junto à cama. Coral olha-o durante uns segundos. Tom sorri incentivando-a a falar. Nas mãos dela permanece a pequena caixa da pulseira. Aperta-a com força. Procura forças naquele objecto que tão gentilmente ele lhe ofereceu. Dói-lhe saber que o vai fazer sofrer.
Molha os lábios com a língua. Ele segue os seus movimentos com o olhar.

- Tom… Eu não posso aceitar o teu amor.

- Eu amo-te, Coral. Nunca disse isto a ninguém. És a primeira pessoa que eu amo realmente em toda a minha vida.

- Mas eu não posso aceitar isso Tom…

Outra lágrima corre pela sua face. Seguida a essa muitas mais brotam dos seus olhos. Tom olha-a interrogativamente e visivelmente preocupado.

- Porquê? Porquê Coral? Eu não percebo…

- Tom eu… Eu… - hesita, não tem coragem. Respira fundo. – Eu tenho namorado.

Tom cai para trás no cadeirão. Fica encostado para trás em estado de choque. Ela chora, muito, cada vez mais.
Uma lágrima grossa corre pela face de Tom indo morrer nos seus lábios. Seca a lágrima.

- Fica com a pulseira. É tua. Eu tenho de ir.

Sem deixar que ela responda, levanta-se e corre porta fora, batendo a porta com força atrás de si. Corre pelo corredor.
Coral abre o fecho da camisola. Debaixo da gola fechada encontra-se o colar com o anjo que ele lhe deu. Sem revelar a ninguém ela usa-o.
Olha para a caixa e abre-a. Retira de lá a pulseira e coloca-a no pulso. Fica a contemplá-la uns segundos e passa um dedo pela prata.

- Desculpa Tom… Talvez um dia… - sussurra.


58º Capitulo

Bato na porta do quarto de Caty. Ela tinha ido tratar de uns assuntos e não a tinha voltado a ver. Ela atende e entro. Conto-lhe o sucedido com Êlo. Ela fica chocada.
Despeço-me dela. Ela vai voltar para casa amanhã. Eu e as restantes meninas vamos para a Alemanha novamente e os rapazes de volta para os Estados Unidos.
Saio do quarto dela e parece-me vislumbrar uma ponta da camisola de Tom a virar na esquina do corredor a grande velocidade. Penso estar a imaginar coisas e continuo o meu caminho para o quarto onde Bill me espera ansiosamente.
Entro, conto-lhe o que aconteceu a Êlo.

- O Gustav está muito preocupado. O Saki contou-lhe à pouco no corredor quando chegámos. Ela queria ir para o hospital mas convencemo-lo que é melhor não nos verem lá.

- Sim é melhor. Eu vou buscá-la amanhã de manhã e trago-a para aqui. Ninguém vos vê. É mais seguro. – respondo-lhe.

Ficamos a namorar durante largos minutos até que começam a bater insistentemente na porta. Levanto-me da cama onde estou deitada a ver um filme com Bill e abro a porta. Na soleira está Coral. Lavada em lágrima que me agarra com força no braço ao ver-me.

- Não sei onde está o Tom. – diz-me nervosamente – Eu contei-lhe. E ele desapareceu. Fui agora ao quarto para falar melhor com ele e ele não está lá.

- O que se passa? – pergunta Bill alheio aos acontecimentos.

- Tem calma Coral. – digo para Coral. Acrescento para Bill: - O teu irmão desapareceu. Anda! Temos de o encontrar antes que ele faça algum disparate.

- Estou a ir. – Bill corre para o corredor seguido de nós as duas.

- Encontra o Saki e conta-lhe Coral. Ele que venha ajudar. Eu vou chamar os outros.

Bato nas portas dos quartos onde todos vêm ver o que se passa. Começam a ajudar a procurá-lo. Saki aparece pouco depois com um keycard do quarto de Tom, para se assegurar que ele não se encontra lá trancado.
Realmente, Tom não está lá e continua desaparecido.
Pego no telemóvel e ligo o seu número. Ele não atende nem se ouve nenhum som nas proximidades. Apenas os nossos passos acelerados pelos corredores.
Entro na porta que dá para as escadas. Continuo a tentar telefonar para ele. Fecho aporta das escadas atrás de mim e um som chama-me a atenção.

“I'm holding on a rope
Got me 10 feet off the ground
I'm hearin' what you say
but i just can't make a sound”

Um toque muito longe. Quase inaudível. Olho para o fundo das escadas e não se encontra ninguém lá. Olho para cima.
No topo das escadas existe uma clarabóia. Começo a subir degrau a degrau em direcção a ela. O toque torna-se mais alto.

“You tell me that you need me
then you go and cut me down
But wait
You tell me that you're sorry
Didn't think i'd turn around
and say”

Mais uns passos e é impossível ignorar o toque de um telemóvel junto da clarabóia. É impossível ignorar o toque do telemóvel de Tom.

“That it's too late to apologize
It's too late
I said it's too late to apologize
It's too late”

Subo até ao último andar. Fico frente a frente com uma porta de fogo. Porta essa que dá acesso ao telhado. Abro-a e vejo Tom, com as camisolas a ondular ao sabor do vento. Está em pé na beira do prédio a olhar para a rua que se encontra dezenas de metros abaixo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

É Segredo... (55º e 56º Capitulos)


55º Capitulo

- Não! Eu nem sei o que ela toma. Ela sempre me disse que os comprimidos eram para as dores de cabeça.

- Foi o mesmo que me disse a mim. Eu acredito em ti. Aquilo eram anfetaminas. Ela vai ter de se tratar. Quando voltarmos para a Alemanha ela tem de ir ao hospital e fazer uma desintoxicação. Não pode tomar mais daquilo. Temos de estar de olho nela.

- Vamos estar. Ela não toma nem mais um comprimido daqueles. Chris?

- Sim.

- Ela deve tê-los trazido com ela. Deve tê-los na mala.

Olho para a minha carteira. Tinha trazido as coisas dela do hospital, inclusive o keycard. Levantamo-nos e saímos do quarto em direcção ao quarto de Êlo. Fechamos a porta para ninguém ver o que estamos a fazer. Apesar de ser uma área reservada, andam sempre empregadas e seguranças pelos corredores.
Abrimos a mala dela e tiramos a roupa. Não encontramos nada no meio da roupa nem nas bolsas que ela levava lá. Começamos a procurar pelo quarto, ela podia ter escondido aquilo no quarto. Não encontramos nada, mais uma vez. De repente tenho uma ideia. Volto para junto da mala. Apalpo o fundo da mala e as beiras.

Um fundo falso…

Ergo o fundo da mala e lá debaixo encontro um pequeno saco transparente com cerca de uma dúzia de comprimidos brancos dentro. Mostro o saco a Coral que cai em cima da cama, pálida.

- Tens noção que passamos no aeroporto com droga dentro de uma das malas? – pergunta-me, pálida, sem reacção.

- Era o que eu estava a pensar. Temos de nos livrar disto de alguma maneira. Temos de falar com o Saki. Ele é segurança, vai saber como nos ajudar.

- Sim. – acena com a cabeça, recuperando a cor do rosto.

Voltamos para o quarto dela, levo o saco escondido na minha carteira. Ligamos a televisão ainda a tempo de ver o encore dos Tokio Hotel no final do concerto. Lindo…
Ficamos na conversa as duas durante um bom par de horas. Coral age de modo estranho. Não pára quieta, está sempre a mexer em alguma coisa.

- Estás bem Coral? – pergunto.

- Estou. – bate o pé no chão nervosamente. – Bem… Não estou…

- Que se passa?

- Eu preciso de te contar uma coisa…



56º Capitulo

- Fala Coral.

Ela senta-se novamente no cadeirão à minha frente. Olha-me durante uns segundos ponderando o que dizer.

- Vou ser directa. Eu tenho namorado, Chris.

- O quê?! – fico perplexa a olhar para ela.

- É verdade. Eu sei que andavas intrigado sobre porquê que rejeito as investidas do Tom. Aqui tens. Eu tenho namorado. Ela vive na Bélgica, quando começamos a namorar eu já estava inscrita para Erasmus, por isso vim e ele ficou lá. Não gosto muito de falar da minha vida privada, por isso nunca vos contei nada disto.

- Tens de contar ao Tom.

- Não é preciso. Eu daqui por umas semanas vou embora e ele já nem se vai lembrar de mim. Sou apenas mais uma que ele queria para a colecção dele.

- Não, Coral. O Tom mudou. Mudou por ti! Porque está apaixonado por ti.

- Não brinques Chris…- ri-se.

- Não estou a brincar. – afirmo seriamente. Ela olha-me. – Estou a falar a sério. Ele está apaixonado por ti, ele ama-te e está a sofrer.

Ela levanta-se e sai para a varanda para digerir as minhas palavras. Ouço barulho no corredor e portas a abrir nos quartos ao lado deste.
Batem à porta.
Levanto-me e dirijo-me à porta. Vejo Coral espreitar para dentro do quarto. Abro a porta e do outro lado está Tom.

- Estás aqui? A Coral está aí contigo? A Caty encontrou-nos pelo caminho. Foi agora para o quarto. Parece que já resolveu o que queria.

- Sim, Tom. Está ali na varanda, entra. Ok, obrigado.

Afasto-me para o deixar passar e saio do quarto, antes de fechar a porta olho uma última vez para Coral. Esta olha-me a pedir ajuda. Desvio o olhar e fecho a porta.

Tens de fazer o que está certo.
Não adianta fugir.
Pobre Tom…

Vou pelo corredor para o meu quarto e de Bill. Mas a meio do caminho surge um vulto a sair do quarto de Georg. É Saki…

- Saki! Preciso de falar consigo! – dirijo-me a ele – Venha.

Puxo-o para o quarto de Êlo que abro com a chave que permanece em meu poder. Entramos e ofereço-lhe o cadeirão para ele se sentar. Sento-me na cama à sua frente.
Tiro o saco da carteira e mostro-lhe. Ele abre muito os olhos.

- Sabe o que isto é?

- Isso é droga! Onde arranjas-te isso?

- Estava aqui no quarto da Êlo. Ela teve uma overdose. Isto são anfetaminas e não sei como me livrar disto.

- Eu trato disso. Deixa estar.

Pega no saco, levanta-se e sai do quarto. Saio também a seguir a ele.
Como será que estão a correr as coisas entre a Coral e o Tom?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

É Segredo... (53º e 54º Capitulo)


53º Capitulo

Os dias passam estranhamente rápido. O dia 1 de Junho chega com uma manhã de sol. Já estamos no avião a caminho de Portugal. Como combinado vamos colocar as malas ao hotel, na mesma ala que eles. A gerência do hotel já está avisada da nossa chegada. Depois vamos passear até eles chegarem.
Saímos do táxi em frente à entrada do hotel onde um simpático funcionário se oferece para levar as malas enquanto fazemos o check-in. Vamos para os nossos quartos, que são grandes, grandes até demais, cheios de luxos desnecessários.

Eles realmente escolhem bem os hotéis…

Saiu do quarto e encontro Caty à espera no corredor. Está encostada à parede com ar pensativo. Vou até ela.

- É o último dia convosco… - diz-me quando me sente aproximar.

- Pois é… Mas já falta pouco para acabar o semestre. Podias ir fazer o próximo ano lá, na Alemanha.

- Achas? Não tenho nada que fazer lá… Para além de te ter a ti…

- E ao Georg…

Olha-me com ar de fúria e estica o braço para me dar um caldo. Fujo antes que me atinja e ela vem a correr atrás de mim. Começamos a correr e a rir pelo corredor como duas crianças.
Coral e Êlo saem ao mesmo tempo dos seus quartos vindo deparar-se com aquela linda cena. Começam a rir-se chamando a nossa atenção, que paramos de correr. Aproveitando um momento de distracção meu, Caty acaba por me dar o prometido caldo.
Caminhamos todas em direcção à saída do hotel. Vamos explorar a cidade. Estamos a chegar à porta que o empregado abre educadamente, quando Êlo me agarra o braço com força.
Olho para ela. Ela olha-me com uma expressão aterrorizada e sem dizer nada cai no chão desmaiada.

- Êlo?? Acorda! – bato-lhe na cara chamando-a, ela não dá sinais de vida – Chamem uma ambulância – falo em português para o empregado entender bem o que quero.

Poucos minutos depois aparece uma ambulância com dois paramédicos que ao verem que ela não reage decidem levá-la para o hospital.

- Eu vou com ela. Eu falo português é mais fácil. Quando os rapazes chegarem avisem-nos. Eles que não tentem ir lá, isso só chamaria as atenções. Eles que vão dar o concerto, que eu vou dando noticias.

Entro na ambulância juntamente com os paramédicos e arrancamos para o hospital. Ela é levada para uma sala de observações. Fico na sala de espera a desesperar. Passado cerca de uma hora vejo uma médica sair da sala.

- É familiar da menina?

- Sou amiga. Ela está cá comigo e com uns amigos. O que lhe aconteceu?



54º Capitulo

- A sua amiga estuda?

- Sim. Nós estudamos juntas na Alemanha.

- Não tem reparado em nenhum comportamento estranho nela?

- Bem…Não… Espere! Ela tem andado a tomar muitos comprimidos… Disse-me que eram para as dores de cabeça. Que anda com muitas dores de cabeça. Mas porquê tantas perguntas, doutora?

- As análises ao sangue da sua amiga revelaram que ela ingere anfetaminas. E pelos níveis que encontramos ela já é viciada. O que lhe quero dizer é que a sua amiga teve uma overdose.

Caio para trás e fico sentada na cadeira de onde me havia levantado. Vejo a médica afastar-se lentamente, como se não tivesse acabado de lançar uma bomba em cima de mim. Levanto-me e caminho até à porta do quarto de Êlo. Espreito pelo pequeno vidro da porta e vejo o seu corpo imóvel ligado a máquinas.

O que foste fazer Êlo…

A enfermeira que está dentro do quarto aproxima-se da porta e sai fechando-a atrás de si. Olha para mim e sorri.

- A sua amiga poderá ter alta amanhã. Mas aconselho que ela se trate quando voltarem para a Alemanha. A doutora disse-me que vocês não são daqui.

- Obrigado. – agradeço-lhe e continuo a olhar pelo pequeno quadrado transparente.

- Vá para casa descansar. Volte amanhã para buscá-la. Ela vai dormir até amanhã.

Olho uma última vez para Êlo, sinto a enfermeira afastar-se de mim. Viro costas ao quarto e dirijo-me à saída.
Apanho um táxi na entrada do hospital e volto para o hotel. Subo até ao meu quarto, o quarto está vazio, já são 20h os rapazes estão a dar o concerto a esta hora. Saio e bato na porta do quarto de Coral.
Espero um pouco. Ninguém responde. Passados alguns segundos ouço passos dentro do quarto. Coral abre a porta.

- Desculpa a demora. Estava na casa de banho. Entra. Como está a Êlo? Onde está ela?

Entro e sento-me na beira da cama. Ela arrasta o cadeirão e senta-se na minha frente. Olho para as mãos sem lhe responder.

- A Êlo ficou no hospital. Tem alta amanhã de manhã. Precisamos de ter uma conversa as duas.

- O que foi? O que lhe aconteceu? Por que é que ela desmaiou?

- A Êlo teve uma overdose. – digo-lhe seriamente, olhando-a nos olhos.

Coral encosta-se para trás no cadeirão digerindo a notícia. Parece meditar um pouco no assunto olhando para as pernas e fazendo vários gestos com as mãos.
Finalmente olha para mim e fala.

- Foi por causa dos comprimidos que ela andava a tomar?

- Sim, Coral. Coral vou fazer esta pergunta uma única vez. Espero que sejas sincera comigo. Eu acreditarei na tua palavra.

- Sim. Diz.

- Tu tomas o mesmo que a Êlo?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

É Segredo... (51º e 52º Capitulo)


51º Capitulo

Acordo no dia seguinte e arranjo-me sem fazer barulho. Dou um beijo nos lábios de Bill que continua a dormir serenamente e saiu do quarto com as minhas coisas. Passo pela cozinha onde agarro numa maça e saiu de casa.
Encontro-me com Coral e Êlo no café da faculdade, onde tomamos um café. Vamos para as aulas e após a última aula antes do almoço saímos da faculdade em direcção a casa. Vamos despedir-nos dos rapazes que partem logo após o almoço. Para isso temos de faltar às aulas.
Chegamos a casa e mal abro a porta deparo-me com um grande conjunto de malas no chão da sala. Ouço vozes vindas dos quartos, os G’s já chegaram.
Para o almoço temos a especialidade do Tom. Diz que como vai ter saudades nossas quer ser ele a cozinhar para nós…

Tão querido…

Coral continua afastada dele, não se aproxima a menos de dois metros dele. Traz uma camisola de gola subida apesar do calor que se faz sentir. Acho que traz o colar dele no pescoço mas não lhe quer dizer.
Almoçamos com as brincadeiras do costume. Mas no fim é hora de eles irem embora terem com David. Saki vem buscá-los para os levar até ao estúdio onde David os espera. Descemos todos para a garagem.
Abraço os G’s em despedida. De seguida vem Tom que me agarra com força.

- Obrigado por tudo, maninha. – sussurra-me no ouvido.

- Estou sempre aqui para ti, maninho.

Dá-me um beijo em cada bochecha e entra na carrinha onde já estão os G’s. Bill aproxima-se de mim e abraça-me, deixando um lágrima correr pelo seu rosto, que depressa faz com que várias corram pelo meu.

- Adeus amor. Daqui por uns dias estou aqui contigo. No dia dos COMET durmo contigo aqui. É uma promessa.

- Adeus amor. Vou morrer de saudades tuas. Cuida-te.

Dá-mos um beijo apaixonado e ele entra na carrinha. As quatro vemos a carrinha afastar-se lentamente. Acenamos em despedida, mas não os conseguimos ver por causa dos vidros escuros.
Voltamos para dentro de casa onde decidimos que é melhor estudar para ocupar a cabeça e compensar o faltar às aulas. Vou ao quarto buscar os meus livros e cadernos e volto para a sala. Caty também pega nas suas coisas para estudar um pouco, já que está a faltar às aulas e só vai voltar para Portugal connosco no dia do Rock in Rio.
Vou à cozinha e encontro Êlo com um copo de água na mão a tomar um comprimido. Quando dá por mim engole-o com ligeireza e pousa o copo.

- O que é isso?




52º Capitulo

- É um comprimido para as dores de cabeça.

- Estás bem? – franzo o sobrolho desconfiada.

- Sim, sim. Não te preocupes.

Ela sai da cozinha apressada. Fico um pouco mais e olho para o caixote do lixo. Não está nenhum invólucro de comprimido lá. Já não é a primeira vez que a vejo tomar comprimidos. Mas nunca lhe havia perguntado para que os tomava.
Saio da cozinha e junto-me a elas na mesa da sala. Estudamos um bom par de horas até à hora de jantar. Faço o jantar com Caty enquanto Coral descansa a ver televisão e Êlo continua a estudar, agora sentada no sofá.
Acabamos de fazer o jantar e Coral vem ajudar a pôr a mesa. Jantamos calmamente. A ausência dos rapazes nota-se na casa. Eles fazem falta.
Levantamos a mesa e pergunto-lhes se querem ficar a dormir lá. Elas aceitam. Vou ter companhia em casa.

Passam-se alguns dias e continuo a reparar na exagerada frequência com que vejo Êlo tomar comprimidos para “as dores de cabeça”. Não lhe pergunto mais nada. Não me quero meter na vida dela. Mas estou preocupada.

Chega o dia dos COMET. Os Tokio Hotel ganham os três prémios para os quais estão nomeados e ainda o SuperCOMET.
Chega a hora dos agradecimentos pelo último prémio recebido. Eu e as meninas estamos todas na sala coladas à televisão a ver a cerimónia. Bill começa os agradecimentos.
“Queremos agradecer às nossas famílias, aos nossos amigos, ao nosso manager David Jost. Bem… Mais? À Universal Music, ao Saki por todo o trabalho que tem com a nossa segurança. Acho que é tudo” Tom chega-se ao microfone e interrompe-o: “Não é tudo não. Também queremos agradecer à minha maninha. Obrigado maninha por todo o apoio!” Afasta-se novamente do microfone deixando o Bill despedir-se por todos.

- Quem é a maninha dele? – pergunta Êlo que havia desviado a cabeça do livro de Fiscalidade que estava a ler.

- Sou eu. – respondo-lhe sorrindo – Em vez de me chamar cunhada ele prefere chamar-me maninha.

- Ele é tão fofo. Está tão diferente ultimamente. Nem parece o mesmo. – comenta ela, inocentemente.

- Vai-se lá saber porquê… - respondo-lhe olhando de relance para Coral que faz de conta que não é nada com ela.

No final da cerimónia vão para a after party, mas, tal como prometera, Bill vem dormir comigo para matarmos saudades.

- O que é feito do Tom? – pergunto-lhe deitada no seu peito na cama já a altas horas da madrugada – Pensei que viesse contigo para casa.

- Preferiu ir para o estúdio. O Saki deixou-o lá antes de me vir trazer. Acho que ele não queria encontrar a Coral, ele pensava que ela estaria cá.

- Elas foram embora depois de acabar a transmissão da cerimónia. Eu tenho quase a certeza que ela utiliza o colar dele.

- Que colar?? – pergunta-me erguendo a sobrancelha, um gesto tão característico dele.

Conto-lhe a história do colar e ele sorri. Acaba por soltar uma gargalhada embrenhado nos seus pensamentos.

- O meu irmão está a sair-me um romântico… Agora percebo porque ele comprou um pulseira com vários anjos gravados lá nos Estados Unidos.

- Ele fez isso?

- Sim. Deve ser para ela também. Ele não vai desistir tão facilmente. Só não percebo porquê que ela lhe dá sempre com os pés…

- Não percebes tu nem ninguém…

Na manhã seguinte Bill parte novamente para o estúdio, conduzido por Saki. Sou obrigada a despedir-me novamente dele.Faltam agora seis dias para irmos para Portugal. Meu país, meu antigo lar, minha antiga casa. Não vou visitá-la. Já tem novos donos e não quero ir em busca de recordações.